Dentre os milagres espirituais do Padre Pio, ressalta-se o do seu primeiro convertido, o do seu primeiro filho espiritual, Emmanuele Brunatto. Nasceu em Turim em 1892. Aos dezoito anos fugiu de casa para passar à vida, por não ter muita afinidade com o trabalho. Aos vinte, casou-se com uma mulher de trinta. Depois de algum tempo a trocou de mulher e, mais tarde apaixonou-se por uma bela moça, Giulietta, com quem viveu vários anos. Organizou um comércio para compra e venda de material bélico; dedicou-se ao teatro, a cantar em cabarés, montou uma oficina de alta costura, sempre aspirando mais; nunca satisfeito. Estava em Nápoles, ouviu falar do capuchinho estigmatizado de San Giovanni Rotondo. Interessou-se, sentiu curiosidade. Uma noite de lua cheia caminhava solitário pelo vale deserto, com meta desconhecida. Rumava para ver a um santo.
Na manhã seguinte, entrara receoso na Igreja de Nossa Senhora das Graças. Havia um frei rezando. Ficou atento observando-lhe. Não se movia. Passeou com os olhos pela arquitetura simples e humilde do templo e voltou a repousá-los sobre o frei, quando este levantou bruscamente a cabeça e fulminou-lhe com o olhar, como nunca havia percebido igual. Brunatto pensou: “Expressão desagradável, barba e rosto de bandido. Este é o santo e me olha com ódio? Bom, já não me olha…, que siga rezando.
Levantou a vista e aqueles mesmos olhos continuavam fixos nele. Fechou os olhos e seguia vendo aqueles mesmos olhos cravados na sua alma. Não podia resistir. Saiu da Capela. Fugiu como um louco. Agarrado às descascadas pedras das paredes do Convento começou a soluçar como uma criança. “Meu Senhor e meu Deus…”, esteve repetindo por talvez uma ou duas horas. Voltou à Igreja. Na Sacristia, o Padre Pio só, o esperava. Sua face era radiante, sua barba lisa, seu olhar sereno. Com um gesto bondoso o convidou a colocar-se de joelhos, e como uma queda aberta de contidas águas, minou dos lábios de Brunatto a torrente de pecados cometidos até então. A absolvição foi suave, doce, articulada. Enquanto lhe retornava a alma à vida e a paz inundava seu ser, uma intensa fragrância de rosas e violetas perfumava o ambiente. Uma vez mais o filho pródigo fundia-se em abraço amoroso com o Pai que o estava esperando.
Seria mais harmonioso falar agora que desde então mudou tudo e radicalmente na vida de Brunatto. Não foi assim: houve alguma queda. Deus deixa sempre que coopere a vontade humana para assegurar-se a confiança no amor e para poder premiar logo a livre decisão do homem. Brunatto voltou a Nápoles. Encontrou a Giulietta com outro amante. Quis dissuadi-la. Chamou desde Turim a sua mulher para reatar casamento. As coisas foram de mal a pior e caiu novamente nos braços de Giulietta.
À noite, sempre via aqueles olhos que o cercaram naquele dia pela primeira vez em San Giovanni Rotondo. Vezes havia que pela noite, dormindo, ouvia o Padre Pio chamá-lo. De acordo com Giulietta, voltou ao Convento de Nossa Senhora das Graças e se instalaram próximo, em uma casa de campo, fazendo-se passar por irmãos. Dormiam cada um em seu quarto. Ele trabalhava de representante; ela de modista. Brunatto sentia um profundo desejo de penitência. Confessava-se com o Padre Pio, vivia como um anacoreta, flagelava-se, dormia no chão, amava sinceramente a Giulietta como uma irmã, que depois de um ano, aceitou marchar-se a Florença onde teria assegurado o porvir. Livre do amor humano, deu Brunatto renda solta a outro amor mais intenso e sublime, que o preenchia ao coração. Passou a viver no convento como familiar. Ajudava o Padre Pio em suas Missas, o cuidava, o fazia companhia, era seu confidente e velava seu sono. Por cinco anos ocupou a cela contígua à do Padre Pio, até a perseguição que os separou bruscamente.
Com muito pesar, deixou Brunatto o seu Pai espiritual. Foi-se do Convento onde havia sido tão feliz, jurando para si mesmo, defender o inocente e desmascarar o autor ou os autores do pérfido escarnecimento.

Livro: Padre Pio
Tragédia de Fê
Padre Luna

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