Um visitante muito assíduo das encostas do Gargano era Wilfred Van Singer, um homem extraordinário que eu tinha encontrado durante a guerra. Talvez seja interessante contar as circunstâncias daquele encontro.
Certo dia, durante uma viagem de trem de Berna para Genebra, li na Gazette de Lausanne que um jovem piloto italiano tinha voado num avião de combate através dos Alpes e tinha aterrissado em Lausanne quase sem uma gota de combustível no tanque. Era uma proeza realmente excepcional, pois estávamos no coração do inverno e certamente as condições atmosféricas sobre os Alpes não eram ideais. Achei que o piloto deveria ter fibra e perguntei-me o que teria inspirado seu voo.
Alguns dias mais tarde, descobri. Aquele mesmo jovem piloto, alto, e de boa aparência, apareceu em meu escritório e, depois de ter-se assegurado de minha identidade, entregou-me uma solicitação de auxílio urgente da parte do Coronel Montezemolo, um dos chefes da Resistência Italiana em Roma, que infelizmente pouco depois foi preso e fuzilado.
Quando, depois da guerra, eu falei de Padre Pio a Wilfred, ele quis a todo custo me acompanhar em minha próxima visita a San Giovanni Rotondo, que foi para ele a primeira de uma longa série. Padre Pio gostava muito de Wilfred, e foram muitas as ocasiões em que fez ele e sua esposa sentirem sua presença, por meio de sua inesperada onda de perfume.
Wilfred tinha pedido que eu o avisasse todas as vezes que fosse viajar a San Giovanni Rotondo e disse-me que, sendo humanamente possível, ele deixaria tudo e iria também. Certa vez, enquanto estava em Roma, decidi de repente ir até San Giovanni Rotondo no dia seguinte, para uma breve visita, só para recarregar as baterias. Julguei que mesmo se não fosse possível Wilfred ir comigo — por ser uma viagem de última hora e por um período tão curto — deveria ainda assim informá-lo. Enviei-lhe um telegrama, desculpando-me por não ter podido avisá-lo em tempo hábil e prometendo lembrar-me dele e de sua família.
Qualquer pessoa que conheça os dois países (Suíça e Itália) pode compreender o que significa entrar no carro em Lausanne às oito horas da manhã (Wilfred tinha estabelecido residência em Lausanne), dirigir através da Suíça e por toda a Península Italiana, e chegar a San Giovanni Rotondo às onze horas daquela mesma noite. Para Wilfred, que agora deveria ser um tranquilo homem de negócios e um responsável chefe de família, foi realmente outra notável proeza.
No dia seguinte, quando encontramos Padre Pio, eu disse-lhe que, além de dar a Benção a Wilfred, poderia também lhe passar um sermão, porque quando ele entrava num carro ainda o confundia com um avião. Padre Pio sacudiu a cabeça em sinal de desaprovação, porém com um sorriso, e então me ocorreu que, talvez, Wilfred não estivesse sozinho naquele dia em que atravessou e admirou as paisagens dos Alpes no inverno. Em se tratando de Padre Pio, nunca se sabia ao certo!
Mas com certeza, Padre Pio estava com Wilfred e com sua esposa para confortá-los e lhes dar forças quando, numa tarde ensolarada, sua adorável filhinha os deixou, montada em sua bicicleta, e foi levada com toda sua juventude e inocência para os aguardar lá, onde está agora ao lado de Padre Pio e da Madonna dele Grazie (Nossa Senhora das Graças) de quem, pouco tempo antes, sua mãe tinha feito um belíssimo quadro.
Livro: Padre Pio
Histórias e Memórias
John McCaffery
Página 157
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