Laura Bellomi entrevista o ator Sergio Castellitto:
“Eu ainda sonho com ele; a sua forma de viver sem desprezar o destino provoca, continuamente, questionamentos dentro de mim.” Vários anos após o filme Padre Pio, produzido por Angelo Rizzoli, pela Vídeotrade Audiovisivi e transmitido na Itália no ano 2000, o ator Sergio Castellitto não esqueceu o frade de Pietrelcina. Pelo contrário, ainda sente uma enorme familiaridade com ele.

Castellitto, quem é Padre Pio para você?

” Um homem. Um homem da terra, capaz de chorar, que se tornou um homem de Deus, do Céu. Um homem que me marcou tanto que ainda sinto a sua presença perto de mim. Nos sonhos, muitas vezes, os significados passam através de um pedaço de pão, um passeio, mas depois tenho sempre a sensação nítida de ter tido alguma relação com ele. Interpretar Padre Pio me transformou. O filme se tornou uma ocasião preciosa para eu me embalar, ler livros, falar com pessoas que o tinham conhecido. E assim, é como se tivesse nascido uma aproximação especial… Pode parecer desrespeitoso, mas me senti escolhido por ele.”

Como se o tivesse chamado… Para você, então, interpretar Padre Pio não foi um trabalho?

” Na minha profissão, representar nunca pode ser apenas um trabalho. Interpretar padre Pio foi um caminho dentro da espiritualidade, além das convicções religiosas, das perguntas que cada um de
nós se coloca.”

Quando Padre Pio morreu, em 1968, você tinha apenas 15 anos. Do que você se lembra?

“Eu era muito jovem. Mas padre Pio sempre me foi familiar; somos ambos do sul da Itália: ele era da província de Benevento; a minha família, de Campobasso. Eu conhecia a sua popularidade, contada pela minha mãe e pelas minhas irmãs. Não chegava a ser seu devoto, mas era fascinado pela sua figura e pela sua devoção natural, incondicional, que ele conseguia despertar em todos. Padre Pio era como o pão da fé, sobretudo para os últimos.

Depois, no ano 2000, você interpretou o frade, a partir dos vinte anos até a sua morte. O que você pensou quando lhe propuseram este papel?

” Eu me recordo bem daquele dia: percebi logo que seria uma ocasião irrepetível, porque o personagem continha em si mais do que um mistério, muito além dos estigmas. ”

Aos seus olhos, qual era o mistério de Padre Pio?

” O mistério da proximidade de Deus na cotidianidade de uma vida simples, rústica. Padre Pio não experimentou a fé só como um luz e inteligência, mas também como concretude física. Isso o tornava e o torna muito mais humano, próximo. ”

O que você fez para conhecer melhor Francisco Forgione, que se tornou o capuchinho frei Pio?

” Passei alguns dias em Morcone, o primeiro convento, onde ele fez noviciado, e onde recebeu o nome de frei Pio.
Eu desejava saborear os hábitos de vida e as regras, a paisagem formada pelos campos, silêncio e auroras, para tentar entender como tinha vivido o frade.”

Você se sentia à vontade com a túnica e cordão?

” Eu sentia a túnica não como vestimenta, mas como meu corpo. Eu me lembro da lã áspera, que não aquece. Ao cordão, que o padre Pio usava também para dar pequenos açoites, eu me sentia apegado por simbolizar a essencialidade.”

Foi difícil para você apropriar-se dos óculos, da barba e do caminhar cansado do frade?

“Interpretar Padre Pio na velhice exigiu de mim um grande trabalho sobre o corpo. Perdi vários quilos e para entender a dor que ele sentia ao caminhar, coloquei pedrinhas nos sapatos… A elaboração do sofrimento fez o resto. Um dia fui submetido a cinco horas de maquiagem para envelhecer. No final, quando me olhei no espelho, na penumbra, tive o privilégio de me ver no fim da vida, com uma semelhança incrível ao meu pai.”

Você se sentia mais próximo do padre Pio jovem ou idoso?

” A fase madura da vida de padre Pio tem uma potência enorme, sobretudo pela forma como atraiu as pessoas. Interpretando o padre Pio agonizante, me dei conta da sua capacidade de cativar ainda hoje, e da qual eu era, então, apenas o mediador. Lembro- me de que, depois de ter gravado a cena da última Missa, da qual existem documentários impressionantes, um assistente de direção que se declarava ateu me disse que tinha ficado profundamente comovido.”

Durante as gravações, você esteve por muito tempo em San Giovanni Rotondo, onde o frade viveu por mais de cinquenta anos e onde morreu. Quais emoções evoca esse lugar?

San Giovanni é um lugar extraordinário: emana ainda o mistério e a grandeza do frade.

O que diria padre Pio ao homem de hoje?

” Reze e trabalhe. Onde trabalhar deve ser entendido no sentido humano, o trabalhar sobre si mesmo e sobre a própria vida. Todos deveriam conhecer padre Pio: crentes, ateus, adultos e jovens. Cada religião concede ao mundo grandes homens, que no fundo dizem algo semelhante. Como Madre Teresa, padre Pio é um deles, o seu lugar é no Pantheon dos grandes. ”

Livro: Padre Pio
O mistério do Deus próximo.
Saverio Gaeta
Página 5

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