Uma senhora americana tentava com dificuldade explicar o que desejava ao garçom. Ofereci-me como intérprete e permanecemos ali, enquanto tomávamos nossos cafés com sanduiches.
Ela perguntou-me se o trem em que estávamos chegaria até Nápoles.
_ Não _ respondi _ , a senhora precisa fazer uma baldeação. Este trem vai para Foggia.
_ Então está ótimo. _ replicou _ É para lá mesmo que quero ir.
_ Por acaso vai para San Giovanni Rotondo? _ perguntei.
Ela me olhou com surpresa.
_ O senhor também está indo para lá?
_Sim _ respondi.
_ Que coincidência! _ ela continuou _ Porque, em resposta a sua pergunta, não sei se vou mesmo até San Giovanna Rotondo ou não. É provável que eu desça do trem antes de chegar lá. Esta é minha última, única e desesperada chance; e fico apavorada em pensar que poderei me decepcionar.
Naquele momento, o trem entrou num túnel e ela disse:
_ O senhor vê este túnel escuro?
_ sim.
_ Esta é a minha vida. Vê também aquele pequeno raio de luz na saída? Acrescentou.
_Sim.
_ Aquele é Padre Pio. É a única centelha de esperança que me resta; se falhar, minha vida está arruinada. Percorri 9.000 quilômetros do Havaí até aqui para vê-lo. Mas com medo de coloca-lo à prova, fiquei num hotel em Roma por três semanas. Ontem fui à Missa na Igreja americana de Santa Susana e, durante o sermão, o sacerdote disse: “Vou relatar uma história contada por Padre Pio, o estigmatizado”. Quando ele terminou a história, pensei: “Este foi um empurrão”. Assim, hoje de manhã coloquei umas roupas na mala, fui para a estação e aqui estou. Mas como lhe disse, estou absolutamente apavorada e pode ser que eu desça do trem antes de chegar a Foggia.
_ Eu não a deixarei descer: _ repliquei _ a senhora é católica?
-Era.
_ Se era, e se agora está indo ao encontro de Padre Pio, ainda deve sê-lo. Esqueça suas ansiedades e seus medos. E não pense que nos encontramos por acaso. Já vi muitos “acontecimentos casuais” como este: Padre Pio definitivamente me colocou no seu caminho, seguiu cada passo de sua viagem e agora aguarda.
Ainda faltavam mais ou menos quatro horas para chegarmos a Foggia. Durante três dessas horas, falei-lhe de Padre Pio: do seu calor humano, da sua compaixão e das coisas maravilhosas que eu tinha visto ou sabia. No final ela me perguntou:
_ Posso me confessar com Padre Pio?
_ Não. _ respondi_ ele só confessa em italiano. Mas no convento há um frade americano. Padre Dominic, com quem poderá falar. Eu apresentarei a senhora ao Padre Dominic e depois poderá fazer como quiser; pois cada peregrino deve encontrar sua ‘própria’ San Giovanni Rotondo. A senhora poderá conversar sobre seus problemas com Padre Dominic e deixar que ele os conte a Padre Pio. E se por acaso quiser falar comigo ou perguntar alguma coisa, saiba que estou lá, sempre disponível.
Durante a última hora de viagem, falei-lhe de Padre Dominic… e ainda falava dele quando o trem chegou a Foggia.
Encontrei um taxi para nos levar a San Giovanni Rotondo e pedi ao motorista que colocasse a bagagem no porta-malas. Quando terminou, o motorista abriu a porta e disse:
_ Desculpe-me, senhor. Um dos frades de San Giovanni Rotondo desceu do trem agora mesmo. Gostaria de lhe dar uma carona?
_ Claro, diga-lhe para entrar _ respondi.
Sim, era o Padre Dominic! Quando o apresentei, minha companheira de viagem mudou literalmente de cor.
_ E agora, acredita quando digo que Padre Pio seguiu cada passo de sua viagem?
_ Oh, sim. Realmente acredito! _ ela respondeu com um fio de voz….
São necessários quarenta e cinco minutos para que um carro suba de Foggia até as colinas rochosas e vermelhas de San Giovanni Rotondo, a “cidade construída na montanha”. Durante esse tempo, encorajei Padre Dominic a relatar a sua conterrânea, muito melhor do que eu tinha conseguido fazer, as coisas extraordinárias que ela já me ouvira contar no trem. Quando chegamos, ela era realmente uma neófita muito bem informada e também uma pessoa muito mais tranquila.
No dia seguinte, ela veio ao meu encontro apressadamente no saguão do hotel e disse:
_ Estive procurando pelo senhor. Até bati na porta de seu quarto!
_Por que? – perguntei.
_Eu senti o perfume! _ respondeu.
_ Estava no meu quarto, absorta em meus pensamentos_ contou _, quando de repente senti um forte e agradável perfume…” De repente entendi do que se tratava: era o perfume de Padre Pio do qual tinha ouvido falar. Foi daí que corri até seu quarto e bati na porta!
Naquela tarde, contei o episódio ao Padre Dominic, que quando soube a que horas o fato tinha ocorrido, disse:
_ Ora, Padre Pio sem dúvida não perdeu tempo! Eu tinha acabado de falar com ele sobre a senhora americana e seus problemas.
Durante minha breve estada em San Giovanni Rotondo, meu contato com essa fina e sensível senhora americana foi suficiente para que eu compreendesse que uma grande coragem pode estar contida num pequeno espaço.
Ela ainda estava em San Giovanni Rotondo no dia de minha partida. Disse-me que gostaria de visitar o santuário de Loreto. O trem no qual eu partiria faria parada em Loreto; assim, fizemos juntos aquele trecho da viagem. Sempre me lembrarei daquela pequena figura solitária, com a coragem estampada em todos os seus atos, parada na plataforma a me acenar enquanto o trem se afastava.
Pouco depois do Natal daquele ano, recebi uma carta dos Estados Unidos. Continha a promessa de uma eterna recordação de mim e de minha família. Mas a verdadeira essência da carta era: “É véspera de Natal. Pela primeira vez em onze anos posso ir à Missa do Galo e comungar. E minhas orações serão por Padre Pio, por Padre Dominic e pelo senhor”. Deus a abençoe. Foi para mim um momento muito feliz. Finalmente ela conseguiu sair de seu túnel!

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