O sacrifício da filha espiritual de Padre Pio para salvar almas.

Com uma extrema solicitude, Padre Pio preparou sua filha espiritual para a morte que, muito serena, ocorreu ao alvorecer do dia 25 de março de 1916, na festa da Anunciação:
Às quatro horas desta manhã, ganhamos junto ao trono do Altíssimo uma outra alma que intercede por nós. Raffaelina terminou seu percurso, celebrou as núpcias com o Esposo divino. Adormeceu no Senhor com um sorriso de desprezo por este mundo. Bem-aventurada ela!
Deixo que imagine o que se passa no meu coração. Desde o momento em que, há dezesseis dias, o Senhor quis nos manifestar, o que aconteceu esta manhã, esforcei-me por aceitar esse divino querer. Invejo sua sorte, e queira Deus, pela intercessão dessa alma santa, dar-me igualmente o repouso dos justos. Estou cansado da vida, meu pai. Detesto este mundo tanto quanto uma alma toda entregue a Jesus pode detestar o pecado. Os combates espirituais, longe de abrandarem-se, só fazem aumentar. Trevas sucedem-se a trevas…
Se ele muito deu a Donna Raffaelina Cerase, levando-a em menos de três anos a elevar- se até a santidade, ela também exerceu sobre ele uma real influência. A frequência de suas correspondências epistolares, mas também sua transparência, a profunda amizade espiritual que traduziam, às vezes inquietaram um pouco Padre Agostino: muita sensibilidade, confidências mútuas. Entretanto, jamais o jovem capuchinho nem Donna Raffaelina dobraram-se à menor concessão aos afetos, e muito menos à imaginação: encorajavam-se um ao outro a afastar-se de tudo aquilo que não fosse o próprio Deus. Padre Pio foi o sacerdote e o pai venerado, respeitado, escutado; Raffaelina foi a filha atenta e amorosa, que ele conduziu com paciência e desapego até a abnegação de si mesma, com o maior respeito por sua liberdade interior e por seu próprio caminho, e isto até a alegria perfeita. Sua relação é _ mutatis mutandis _ completamente análoga à que unia Francisco e Clara de Assis, João da Cruz e Teresa d’ Ávila, Francisco de Sales e Joana de Chantal. E certamente não é um acaso que Raffaelina tenha sido, na hora de Deus e ao preço do sacrifício de sua vida, o instrumento de seu retorno à vida monástica, que marcaria o início de uma missão estendida à Igreja universal:
Ela tinha oferecido sua vida para que Padre Pio voltasse para o convento, a fim de fazer, pelo ministério da confissão, um bem muito maior às almas.