Nos primeiros tempos, seu ministério em Pietrelcina foi bem reduzido. Levava uma existência quase eremítica, ritmada a cada dia pelas mesmas tarefas. À celebração, bastante longa, da Missa da manhã _ na maioria das vezes sem assistência, pois os camponeses iam muito cedo para o campo, e outros evitavam-na por medo de um possível contágio _ , sucediam-se pontualmente a preparação das grandes festas litúrgicas, as visitas aos enfermos e, quando seus pais não viam nenhum inconveniente nisso, a catequese das crianças da cidade e formação dos coroinhas. Aparente monotonia, na qual cada instante do dia, cada gesto _ por mais pobre, por mais insignificante que parecesse _ era vivido com intensidade, com total envolvimento. Sobravam-lhe longas horas de solidão, que aproveitava para ler e rezar. Depois de uma manhã em que o sacristão encontrara-o deitado no chão, inconsciente, diante do altar, e que, ignorando o que é um êxtase, fora clamar a todos os ventos que o monge estava morto, o pároco Dom Pannullo tinha lhe dado uma chave da igreja, para que pudesse demorar-se nela o quanto quisesse. Gostava também de se retirar no silêncio da Torreta ou sob o olmo de Piana Romana, meditando o sentido das palavras misteriosas que, desde seu noviciado, ressoavam na sua intimidade e que, como um leitmotiv, acompanharam-no até o final de sua existência aqui na terra:
Ouço uma voz em mim que me repete sem cessar: santifica-te e santifica.
Ah, minha caríssima, é o que eu quero, mas não sei por onde começar.
Quando escreveu essas linhas a Nina Campanile, já fazia quase vinte anos que se esforçava em responder a esse apelo, e estava convencido de não ter ainda sequer começado a fazê-lo, embora há muitos anos tivesse uma clara visão dele:
A santidade consiste em sobrepujarmos a nós mesmos, é a vitória perfeita sobre todas as nossas paixões: isto significa desprezarmos a nós mesmos verdadeira e constantemente, e desdenharmos as coisas do mundo a ponto de preferir a pobreza às riquezas, a humilhação à glória, o sofrimento ao prazer. A santidade é amar nosso próximo como a nós mesmos por amor a Deus. A santidade, sob esse aspecto, faz com que amemos quem nos maldiz, quem nos odeia, quem nos persegue, leva-nos mesmo a fazer-lhes o bem. A santidade significa que vivemos humildes, desinteressados, prudentes, justos, pacientes, cheios de caridade, castos, transbordantes de mansidão, laboriosos e fiéis em cumprir nossos deveres, com o único objetivo de agradar somente a Deus e de somente Dele receber a justa recompensa. Enfim, a santidade, Raffaelina, tem em si mesma a capacidade de transformar o homem em Deus, conforme a expressão dos santos livros.
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