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Giacomino Gaglione, primogênito de uma nobre família de Caserta, cresceu mimado por todos. Amava os estudos, mas também os esportes, os bailes e as festas. Rico, charmoso e alegre, era o sonho de todas as garotas de sua idade.
Em 1912, aos dezesseis anos, começou a sentir umas dores no calcanhar esquerdo, seguidas de inchamento nas articulações dos pés e das pernas. Um par de semanas depois estava paralisado, imóvel na cama, e só podia alimentar-se recebendo a comida na boca.
Foram consultados os mais renomados especialistas, tentados tratamentos com banhos quentes, massagens e até cirurgias. Tudo em vão. Giacomino, porém, não se rendia, amava a vida e queria vivê-la a qualquer preço.
Aos dezenove anos enamorou-se de uma prima, que morava no mesmo palácio.
Cada dia fazia- se levar ao apartamento da tia, para passar algumas horas com a moça. Juntos traçavam planos para o casamento, certo de um dia ficar curado. Enchia a prima de presentes: anéis, colares, braceletes de ouro. Ela tornara-se a razão de sua vida, e ao seu lado Giacomino chegava a esquecer que estava doente.
No começo, as famílias deixaram o romance correr. Mas, a certa altura, a tia caiu na real. Vendo que a doença do rapaz não oferecia esperança de cura,e não querendo que a filha se ligasse para sempre com um paralítico, interveio com determinação. Exigiu que o sobrinho desse um basta no namoro, simplesmente.
Ao saber da decisão, Giacomo ficou uma fúria. Agarrou uma tesoura que se encontrava sobre a mesa e tentou cortar o pescoço. Entrou numa crise depressiva tão forte que precisava ser vigiado dia e noite. Quase não se alimentava, blasfemava e maldizia o próprio destino. Não queria mais viver. Aos que procuravam animá-lo revidava com indignação: que sentido faz viver se me proíbem amar aquela que é a razão da minha vida?
A crise durou até 1919. Estava com vinte e três anos, quando, casualmente, lhe caiu nas mãos um artigo sobre o padre Pio e as curas que realizava. Em seu coração brilhou uma esperança.
Quero ir até o padre Pio _ disse aos familiares.
Falava nele com entusiasmo. Na certeza de conseguir a cura, voltou a conversar com a prima e a fazer planos para o casamento. Tanto entusiasmo, porém deixava os pais preocupados. Pensavam com terror na eventualidade de não conseguir a graça. Cairia fatalmente numa fossa ainda maior. Por isso procuraram dissuadi-lo de ir a San Giovanni Rotondo. Não adiantou.
A viagem foi dramática. Finalmente se encontrou com o padre Pio. “Depois da confissão _ contou em seguida
_ o padre me fitou com seus olhos tão profundos e bonitos, sem dizer nada. Mas o seu sorriso de criança, inocente ficou gravado para sempre em meu coração”.
Aconteceu então o milagre. Ele que aguardara durante meses para obter a cura de uma doença que o mantinha imóvel há anos, de repente não desejava mais ser curado. Vendo diante de si o padre Pio marcado com os sinais da paixão de Jesus, descobriu o “sentido profundo” da própria vida. “Intuiu” o mistério do valor do sofrimento. Sentiu-se chamado a uma empresa espiritual gigantesca: sofrer para colaborar, de maneira mais direta, na obra da Redenção.
Voltou para casa transformado. Num primeiro momento, os familiares sentiram-se preocupados ao ver que não conseguira a graça. Mas, ao mesmo tempo, notaram que não era mais o mesmo. Mostrava- se alegre como nunca o fora desde o começo da doença. Ria, gracejava, o rosto iluminado por uma inusitada alegria. O encontro com o padre Pio fizera estalar a faísca de uma nova missão para sua vida: a do sofrimento aceito direcionado à salvação dos irmãos.
A partir de então, dedicaria toda a sua existência aos doentes, para ensinar-lhes o valor do sofrimento.
Por cinquenta anos padre Pio levou em seu corpo os estigmas de Cristo; e por cinquenta anos Giacomino ficou estendido em sua cadeira-leito de ferro, como numa cruz. Padre Pio criou um hospital, a fim de que os doentes fossem cuidados e assistidos com amor. Giacomino criou o Apostolado do Sofrimento, um movimento que agrupava pessoas acometidas por doenças físicas, tentando transmitir-lhes os seus ideais extraordinários.
Por sua condição, os doentes sentem-se inúteis, tolerados pela sociedade, inibidos em suas aspirações. Mas ele lhes revelava que, através do mistério do Corpo Místico de Cristo, podiam tornar-se importantes protagonistas da história, autênticos salvadores da humanidade.
Giacomino representou um dos milagres mais fantásticos do padre Pio, com quem se manteria ligado pelo resto da vida. Quantas vezes, em seu leito de dor, sentia o inconfundível perfume do amigo. Ou o via ali a seu lado.
Muitos o visitavam, pediam-lhe conselhos. Ele só podia mover as mãos, e as usava para consolar e instruir: escrevia em média 3.500 cartas por ano a doentes que precisavam de encorajamento. Além de artigos para várias revistas, organização e acompanhamento de peregrinações de doentes a Lourdes, Loreto e San Giovanni Rotondo.
Morreu em maio de 1962. Pouco antes do desenlace, recebeu do santo amigo um telegrama com estas palavras: “Com Jesus na cruz, com Jesus no santo paraíso”.

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