Ao chegar pela primeira vez a San Giovanni Rotondo, em setembro de 1946, quando vi o grupo de pessoas que abraçavam o Padre Pio e o seguiam passo a passo, não quis juntar-me a elas e coloquei-me de lado, a um canto na sacristia, a fim de observar. Contavam-se “maravilhas” a respeito desse padre na pensão em que me alojara. Aparentemente atento e interessado na narração dos fatos, eu procurava disfarçar minha atitude prudente. Por isso, apoiado a uma parede da sacristia, observava e avaliava.
Eu estava encostado na portinhola que separa a sacristia da capela, do lado oposto à porta que leva ao mosteiro. De repente, não sei como, ocorreu-me a ideia de pedir mentalmente alguma coisa ao padre, que naquele momento, assediado pelas pessoas, abria a portinhola de entrada do mosteiro. Dirigindo-me a ele, mentalmente, pedi, no momento em que ele entrava: “Se o senhor é um santo, dirija-me um olhar e uma palavra”. O padre continuando ainda a falar com aqueles que o circundavam, pousou o molho de chaves com o qual já havia aberto a porta, levantou a cabeça e olhou-me por longo tempo. Depois abrindo caminho entre os presentes, dando as costas à sacristia, aproximou-se de mim e de um jeito simples familiar até, perguntou: “De onde você é?” “De Roma, padre”. E ele, dando-me duas palmadinhas com a mão no ombro esquerdo: “Ah! civis romanus sum!” Depois, brincando, acrescentou alguma outra coisa que eu, dada a emoção do momento, não consegui captar.
Ninguém sabia que eu havia pedido um olhar e uma palavra, e não dei muita importância ao fato de que o Padre Pio tivesse atravessado de volta a sacristia para se aproximar de mim. Ao contrário, o que me chamou a atenção foi aquela frase que ele pronunciou Civis romanus sum (Sou cidadão romano) – frase proferida por são Paulo em Jerusalém, que eu lera quando menino nos Atos dos Apóstolos e tinha o hábito de repetir com intuito de afirmar que, tendo tomado uma decisão, ninguém me faria mudar de opinião.
Foi assim que comecei a acreditar no Padre Pio.
Continuei a observá-lo, entretanto, não mais com um olhar indagador, mas com os olhos atentos de um aprendiz. Via reviver nele o ideal de são Francisco, via emergir novamente os principais componentes do espírito franciscano: pobreza, amor incondicional por Cristo, devoção filial por Maria Santíssima.
Sobretudo a pobreza, não a material (embora se tratasse também desta), mas a espiritual, aquela essencial – ou seja, a pobreza do “eu”, a indiferença pelos interesses pessoais, o distanciamento das ambições e das aspirações terrenas. A pobreza que se torna “humildade” e se converte em “caridade”, porque se traduz em amor fraterno, na abertura em direção ao próximo, na dedicação aos necessitados, na prontidão a perdoar e a saber pedir perdão.
Luigui Peroni
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