Os estigmas foram o fenômeno místico mais estrondoso que atingiu Padre Pio, aquele que o caracterizou e se tornou famoso no mundo todo. Ele é o único sacerdote estigmatizado que se conhece na história da Igreja.
Pois bem, Padre Pio recebeu o dom dos estigmas, não em San Giovanni Rotondo, em setembro de 1918, como oficialmente se pensa, mas em Pietrelcina, em 1910.
É o que se deduz de vários testemunhos. Um deles é de Monsenhor Pannullo, arcipreste de Pietrelcina. Quando, em 1918, lhe contaram que nas mãos de Padre Pio tinham aparecido estigmas, ele replicou: “Vocês estão vendo-as agora; eu as vi em 1910”.
Mais tarde contou que o misterioso fenômeno se tinha verificado no dia 7 de setembro de 1910, à tarde. Padre Pio estava rezando em Piana Romana. Apareceu-lhe Jesus e Nossa Senhora, que lhe entregaram os estigmas.
De regresso a casa, o Padre contou tudo a Monsenhor Pannullo, acrescentando: “Ti’Tore, por caridade, peçamos a Jesus que me liberte desta confusão. Desejo sofrer, morrer de sofrimento, mas tudo às escondidas”. Rezaram juntos e Deus escutou-os. Os sinais visíveis dos estigmas desapareceram, mas os sofrimentos fortíssimos continuaram.
Dispomos também do testemunho preciso e repetido do próprio Padre Pio. Numa carta de setembro de 1911, que escreveu ao seu diretor espiritual: “Ontem à noite aconteceu-me uma coisa que não sei como explicar nem entender. No meio da palma das mãos apareceu-me uma mancha vermelha, do tamanho de um cêntimo, acompanhada por uma dor forte e aguda no meio dela. Essa dor era mais intensa na mão esquerda, a ponto de ainda hoje perdurar. Também senti certa dor na sola dos pés. Há já quase um ano que este fenômeno vem se repetindo. Contudo, durante algum tempo deixei de senti-lo. Não se inquiete por eu só agora lhe contar, pois me tenho deixado vencer sempre por aquela maldita vergonha. E mesmo agora, se soubesse a força que tive de fazer sobre mim mesmo para lhe contar…”.
Em outra carta, dirigida a Padre Agostino, durante o mesmo período, escreveu: “Desde quinta-feira à noite até sábado, sofre-se bem. É me oferecido todo o espetáculo da Paixão, constituindo para mim uma tragédia dolorosa. Parece que meu coração, as minhas mãos e os meus pés foram trespassados por uma espada, tal é a dor que neles sinto”.
O fenômeno dos estigmas teve, portanto, início em 1910, em Pietrelcina, precisamente na cabana de Piana Romana. Em 1918, em San Giovanni Rotondo, os estigmas tornaram-se “visíveis”.
Padre Pio lembrava-se bem de tais datas. Em setembro de 1968, os seus filhos espirituais organizaram uma grande festa para recordar os cinquenta anos da impressão dos estigmas. Ele deixou que o fizessem. No entanto, à sua filha espiritual predileta, Cleonice Morcaldi, que lhe foi dar os parabéns, disse: “Não é há cinquenta anos, mas há cinquenta e oito, que trago no corpo estas chagas”.
Todas as experiências extraordinárias pelas quais Padre Pio passava durante aqueles anos de exílio em Pietrelcina levavam-no a “familiarizar-se” com o além. Para ele, a grande barreira que separa a realidade deste mundo da realidade do mundo dos espíritos ia-se dissolvendo pouco a pouco. Era diariamente invadido por realidades sobre-humanas e celestes, que nem a fantasia mais exuberante pode imaginar. É essa a razão pela qual, como já vimos, o seu físico se ia deteriorando e a febre subia aos 48 e até aos 53 graus.
As personagens celestes que a fé nos diz existirem no além, e que para nós são apenas figuras hipotéticas, para Padre Pio tornavam-se interlocutores reais. Via-os, conversava com eles, recebia conselhos, confidências, revelações, informações e intuições. Jesus, Nossa Senhora, São José, São Francisco, os anjos, o próprio Anjo da Guarda, viviam com ele como se formassem todos uma só família.
Livro: Padre Pio
Um santo entre nós
Renzo Allegri
Página 148
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