O quadro que emerge é realmente bastante interessante. De fato, o inquisidor procura reconstruir tudo o que se refere ao Padre Pio, não só interrogando e examinando diretamente o capuchinho, mas também fazendo uma profunda investigação através das testemunhas mais próximas: os sacerdotes que trabalhavam em San Giovanni Rotondo e os frades do convento.
Desse modo, quem lê fica com a impressão de estar ouvindo o próprio Padre Pio narrando tudo o que lhe aconteceu e o espírito com que viveu isso. Com brevidade humilde mas densa, ele conta como recebeu os estigmas visíveis – porque os invisíveis já os tinha havia muito tempo – naquele dia 20 de setembro de 1918… Foi numa manhã, no coro, enquanto fazia a ação de graças depois da Santa Missa: De repente, apoderou-se de mim um grande tremor; depois, veio a calma, e vi nosso Senhor em atitude de quem está numa cruz – mas não me apercebi de que houvesse cruz –, lamentando-se da ingratidão das pessoas, especialmente das consagradas a ele e por ele sofria e que desejava associar almas à sua Paixão. Convidava-me [a] compenetrar-me das suas dores e a meditá-las; ao mesmo tempo, a ocupar-me da salvação dos irmãos. Então, senti-me cheio de compaixão pelas dores do Senhor e perguntei-lhe o que podia fazer. Ouvi estas palavras: “Associo-te à minha Paixão”. Depois disso, a visão desapareceu, caí em mim e vi estes sinais, dos quais gotejava sangue. Antes eu não tinha nada.
O capuchinho nunca tinha contado de modo tão explícito esse acontecimento tão importante. Sobretudo, nunca havia revelado aquela frase decisiva para se compreender tudo: “Associo-te à minha Paixão”, que é a chave para adentrar no mistério da vida de Padre Pio. E também esta outra: “Convidava-me… ao mesmo tempo [a] ocupar-me da salvação dos irmãos”. Os “sinais” externos da Paixão, depois de longo período de preparação, durante o qual permaneceram ocultos, são-lhe dados a fim de tornar a sua missão mais evidente: conformado a Jesus, marcado com suas feridas, intimamente unido à ele na dor e no amor, poderá ser instrumento, canal através do qual possa chegar aos irmãos a salvação abundantíssima.
Portanto, um acontecimento extraordinário e perturbador. E, no entanto, aceito e vivido pelo capuchinho na paz. Padre Pio admite sofrer muito fisicamente: “Em alguns momentos, não consigo aguentar”, confessa. Também reconhece que, por vezes, fica espantado com o clamor que tudo isso provocou mesmo contra a sua vontade: a afluência cada vez mais numerosa dos fiéis, a correspondência que aumentava cada vez mais e quase consumia os poucos recursos existentes no Convento de San Giovanni Rotondo. Ele, porém, vive tudo isso com tranquilidade, realinhando-se serenamente à cruz que lhe foi dada, confiando no apoio de Deus e, também, dos confrades e superiores.

Livro: Padre Pio
Sob Investigação
Francesco Castelli
Página 13

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