Cesário era primo do Dr.Jorge Festa, o mesmo que examinara e estudara longamente os estigmas do padre Pio. Era também ele uma figura brilhante: advogado, ex-prefeito de Arenzano e presidente do tribunal maçônico da Ligúria. Além da cultura profissional diferente, os dois primos divergiam na orientação religiosa.
Em suas frequentes idas a Roma por motivos profissionais e também por suas atribuições na maçonaria, Cesário aproveitava para visitar o primo.
E esse, por sua vez, não perdia oportunidade de lhe falar na sua experiência de médico, feita com o padre Pio.
– Por que não vai a San Giovanni Rotondo? – lhe sugeriu. Ali poderá verificar com os próprios olhos o ambiente, as pessoas e os fatos. E também encontrar as provas dos milagres que a sua razão se recusa a admitir.
Era o outono de 1920.
Em março do ano seguinte, Cesário se pôs a caminho. Chegado ao convento, viu um grupo de frades conversando. Aproximou-se e pediu informações sobre o padre Pio ao primeiro que se apresentou. Mas esse, ao invés de responder “sou eu mesmo”, e sem esperar que outros o apresentassem, foi logo perguntando:
– Mas que é isto? Os maçons agora deram de vir à igreja?
Como a lhe dar a entender que ali ele era um peixe fora da água. Um maçom no meio dos frades, já se viu?
– É, às vezes acontece – retorquiu meio desapontado o Dr. Festa.
E sem lhe dar chance de se justificar, acrescentou:
– Qual é o seu papel na maçonaria?
Festa engoliu seco. Vai sobrar pra mim – pensou. Mas foi sincero:
– Combater a Igreja. – E, tentando abrandar um pouco o impacto da revelação, explicou… mas o ponto de vista político apenas.
Sorrindo amigavelmente, padre Pio o toma pela mão e saem caminhando pelo corredor do convento. Passo a passo, lentamente, enquanto lhe conta a parábola do filho pródigo. Fala-lha no Deus que vai ao encontro dos homens, os quais, na sua frenética busca de paz e felicidade, tantas vezes se perdem nos meandros de suas indagações, se metem por trilhas erradas e ficam andando às tontas na vida.
Não é exatamente assim que acontece com ele? O efeito da conversa é fulminante. Como num passe de mágica, o padre Pio consegue deflagrar nele um fervor jamais experimentado. Menos de uma hora depois, o altivo advogado surpreende-se de joelhos aos pés do Padre. Entre outros propósitos, tem o de tornar pública a própria conversão imediatamente ao chegar em casa.
Mas na despedida ouve do confessor este conselho:
– Espere um pouco. Quando chegar o momento propício, Deus lhe dará um sinal.
O Dr. Festa sente-se outro. Em Foggia, enquanto aguarda o trem para Gênova, rabisca um bilhete ao primo de Roma. É o dia 19 de março de 1921.
“Jorge meu – lhe diz – deixe-me abraçá-lo ternamente e dizer-lhe baixinho ao ouvido, com toda a minha alma: obrigado! Você me abriu um caminho que pretendo seguir. Nada mais posso lhe dizer por escrito, simplesmente porque me sinto incapaz de escrever. Digo-lhe apenas que experimentei na alma uma doçura profunda – profundamente comovido –, ávido de silêncio, silêncio, afim de que nada venha a perturbar meu espírito. Senti, quase vi, aquilo que por certo está além do comum”.
Em Gênova tem início uma vida nova para o Dr. Cesário, que procura engajar-se em diversas atividades religiosas. Numa próxima ida a San Giovanni Rotondo, pede para ser escolhido na Ordem Terceira de São Francisco, embora em Superba, onde está a loja que ele frequenta, seu nome continue figurando no quadro da maçonaria. Padre Pio lhe prediz tempos difíceis. No dia em que lhe impõe o escapulário da Ordem Terceira, oferta-lhe um Novo Testamento com a dedicatória: “Bem aventurados os que aceitam a Palavra Divina com um coração humilde e a observam fielmente”.
Ainda no âmbito de sua conversão, o Dr. Cesário gosta de recordar o que lhe acontecera numa de suas visitas ao primo de Roma. “Certa vez – conta – ele me recomendou muito um livro sobre a vida de Jesus, escrito por uma freira do século XVIII, com base nas suas visões. O livro fora-lhe dado a ler pelo padre Pio, no tempo em que estudava seus estigmas. Se eu estivesse interessado, poderia encontrá-lo numa certa livraria de Roma. Toquei-me para lá imediatamente, aproveitando os minutos que ainda tinha, antes de tomar o trem para Gênova. Mas encontrei a livraria fechada. Não tem importância – pensei – certamente vou descobri-lo nalguma livraria da minha cidade”.
No dia seguinte, uma surpresa. Enquanto se refaz do cansaço da viagem, eis que aparece um rapaz e entrega à empregada um pacote, endereçado ao “comendador”. Abre-o e encontra os dois volumes da vida de Cristo.
Pouco depois, Festa parte em peregrinação a Lourdes – “a cidade dos milagres e da oração”, como a definiria. Vai com simplicidade franciscana, na companhia de enfermeiros e maqueiros. A notícia é tornada pública pelo jornal socialista L’Avanti, num artigo intitulado: ” Um maçom em Lourdes”.
A revelação deixa a loja de Superba alvoroçada. Para julgar o “traidor”, convoca-se uma reunião especial. Festa fica sabendo e decide participar. Pouco antes de sair de casa, recebe uma carta do padre Pio. Era o “sinal” de Deus prometido. A carta dizia: “Não se envergonhe de confessar Cristo e sua doutrina. Chegou sua oportunidade. Combata de peito aberto. Que o distribuidor de todas as graças o ampare com seu poder e força”.
Na reunião enfrenta provocações e ameaças. Nada, porém, o faz vacilar.
Responde sempre com frases cheias de ardor sobre Deus e sobre a religião cristã. Assim, pela primeira vez na história, numa loja maçônica ouve-se um de seus chefes pregar a palavra de Deus. Ao invés de ser condenado, o Dr. Festa sai de lá vitorioso. Em seguida viaja a San Giovanni Rotondo para agradecer ao padre Pio. Na volta, se detém em Roma e é recebido pelo papa Bento XV que, entre outras coisas, lhe diz: “Oh, sim, sim! Padre Pio é realmente um homem do Deus. Alguns duvidam, mas você contribuirá para torná-lo conhecido”.
Como advogado e conferencista renomado, o Dr. Cesário empenhou todo o seu talento na defesa do padre Pio.
Livro Padre Pio O Santo do Terceiro Milênio/pág 234
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