Geralmente, porém, são expressões maravilhosas, como no caso da condessa Luísa Vairo. Era dona de uma das maiores fortunas, e uma das mais charmosas mulheres da região. Em Londres, onde passara a morar, frequentava os círculos aristocráticos… e também mundanos, levando na verdade uma vida libertina.
Certo dia um seu amigo, em viagem a Roma, ouviu falar no padre Pio e ficou ansioso por conhecê-lo. Tamanho foi o impacto que, ao regressar a Londres, não parecia mais o mesmo.
– Pelo jeito – diziam-lhe com ares de gozação – vai entrar no convento.
– Nunca pensei nisto. Mas desde que conheci este padre, sinto que não posso continuar o mesmo. Por que não vão lá vocês também?
A condessa aceitou o desafio. Sua primeira impressão ao chegar a San Giovanni Rotondo foi de repulsa, diante da situação de pobreza em que vivia grande parte da população. Ao subir a ladeira que leva ao convento, porém, começou a ter a impressão de que alguém caminhava a seu lado. E a questionava: que sentido fazia a vida mundana que levava? Era possível uma verdadeira felicidade no abismo do pecado?
Ao entrar na igreja, sentiu que algo estava acontecendo com ela e foi tomada por um acesso de emoção. Seus soluços chamaram a atenção de algumas senhoras que a conduziam à sacristia onde o Padre se encontrava.
– Calma, filha – procurou tranquilizá-la ele. A misericórdia de Deus é sem limites. Jesus morreu na cruz por todos, e o sangue dele é capaz de lavar os pecados do mundo inteiro.
– Padre, quero me confessar – falou ela, que uma hora antes teria achado graça de uma tal proposta.
– Claro, claro, mas antes acalme-se. Volte amanhã.
Enxugando as lágrimas, a dama ilustre saiu da igreja. Passou a noite quase sem dormir, tentando recapitular os pecados cometidos depois da última confissão, feita ainda na infância.
Como tantíssimos antes dela, ao chegar diante do Padre, sentiu-se perdida, não sabia por onde começar nem como se expressar. Parecia que um nó lhe apertava a garganta.
Vendo-a naquela situação, o Padre começou ele próprio a fazer o inventário de sua triste vida. E o fez com tanta precisão que parecia estar lendo uma lista, na qual especificava até às várias etapas da vida em que tais pecados foram cometidos.
– Não lembra mais nada? – perguntou por fim.
E ficou aguardando em silêncio, enquanto a senhora Vairo sentia-se sacudida internamente por um calafrio de vergonha. Com que então era preciso confessar também aquele pecado que lhe dava nojo até de lembrar? Não era suficiente a exposição daquela onda de lama? Experimentou a tentação de responder que era tudo o que conseguia lembrar. No entanto, disse timidamente:
– Sim, ainda tenho um, mas…
– Deus seja louvado! – interrompeu-a feliz o Padre ao ouvir sua acusação.
Era por este que eu esperava… Agora posso dar-lhe a absolvição. Vá em paz.
A partir daquele dia, a conduta da condessa foi um desmentido rotundo ao seu passado. Para evitar o perigo de recair nos antigos hábitos, não quis mais voltar ao ambiente frívolo em que vivera. Preferiu permanecer em San Giovanni Rotondo, como filha espiritual do padre Pio. Ali, com um fervor de noviça, redigiu um programa que teria admirado aos maiores ascetas.
Os moradores do lugar lembravam por muito tempo a história acontecida em certa manhã de inverno, quando ela decidiu percorrer de pés descalços a encosta que sobe até a igreja. O vento fazia gemer as árvores, chovia, e um frio cortante anavalhava a paisagem desolada. Encharcada até os ossos, os pés sangrando (naquele tempo o caminho era ainda e cascalhado), conseguiu chegar até a frente da igreja, onde caiu desmaiada de dor e de frio.
Quando voltou a si, seus olhos encontram-se com os do Padre, que inclinado a observava:
– Minha filha – disse-lhe –, também na penitência precisamos ter limites.
Em seguida, tocando-a levemente no ombro, acrescentou:
– Menos mal que esta chuva não molha.
Com espanto, os presentes puderam verificar que as roupas da condessa encontravam-se absolutamente secas. Sim, sua epopeia tivera um final feliz.
Tantas orações e penitências tinham como objetivo principal a conversão do filho, que servia como oficial na marinha britânica. Mas esta expectativa pareceu ruir quando um marinheiro francês lhe trouxe um jornal. Ao abri-lo, deu com uma notícia que lhe fez gelar a voz garganta: o barco em que seu filho trabalhava, fora afundado pelos alemães. Os quinze integrantes da tribulação continuavam desaparecidos.
Vendo-a aos prantos, padre Pio se aproximou.
– Padre, por amor de Deus, meu filho morreu num naufrágio.
– Quem lhe disse isto? – quis saber ele.
– Está aqui… como é que alguém pode afirmar o contrário?
Padre Pio fitou-a profundamente, depois ergueu os olhos ao céu, como a pedir uma resposta.
– Senhora, agradeça a Deus – tranquilizou-a por fim –, seu filho vive.
Salvou-se por triz na hora do naufrágio. Está numa ilha do Atlântico, muito pitoresca por sinal, porém desconhecida nos mapas geográficos.
A notícia se confirmava quando, dias depois, chegava uma carta do filho, contando como tudo acontecera.
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