O ano é mais ou menos 1957. É a hora de o Padre Pio ouvir confissões. Como sempre, a igrejinha acha-se lotada. Embora separada dele por vários metros, me encontro de pé diante do confessionário e posso vê-lo perfeitamente. Uma mulher jovem, bonita e chique, sai aos prantos. Nunca nos tínhamos encontrado antes, mas não sei por que razão, ela passa por toda a gente e se dirige a mim. Chora sobre meu ombro, revelando-me confidencialmente que o Padre Pio lhe negara a absolvição. Tem na mão um crufixo, que trouxera para ele benzer. Parece boa gente. Fico sem saber o que lhe dizer, pois desconheço o seu problema. Padre Pio continua olhando fixamente para nós. Parece dar-nos a entender alguma coisa, mas o quê?
Por fim ela me segreda baixinho: “Eu só lhe disse que às vezes tenho pensamentos impuros”, ao que ele me perguntou:
— E você procura afastá-los imediatamente?
— Padre — lhe respondi – às vezes sou incapaz de o fazer logo.
E ele:
—- Só por um pecado deliberado de pensamento, o grande Lúcifer foi expulso do paraíso.
E dizendo isto, encerrou a confissão, sem me dar a absolvição.
Tentei confortá-la, enquanto continuava observando os olhos do Padre Pio. Que quereria ele me dizer?
De repente, me ocorreu uma ideia.
. — Você já esteve na Gruta de São Miguel Arcanjo?
— Não! — Me respondeu. Faz dez dias que me encontro aqui e ainda não fui. Agora não é mais possível, pois dentro de mais ou menos uma hora, devo tomar meu ônibus para a estação do trem que me leva a Milão.
— Penso — lhe expliquei – que a intenção do Padre Pio talvez seja fazê-la
compreender o seguinte: aquilo que, dada a nossa fraqueza, achamos difícil fazer sozinhos, podemos consegui-lo com a ajuda de São Miguel. Ele é o guerreiro que combate o mal, ajudando-nos a manter sob o controle do espírito e da vontade as inúmeras paixões que lutam para se impor, primeiro dominando as pessoas, em seguida a sociedade.
Ela me fixa com esperança nos olhos. Vai procurar saber se é isto que o Padre Pio quer.
Na manhã seguinte, vejo-a um pouco antes de tomar o ônibus. Vem correndo e me abraça efusivamente.
— Você estava certa. Fui falar com outro frade e procurei saber. Ele concordou, e eu transferi a minha volta. Antes quero ir à gruta, me colocar sob a proteção de São Miguel. Ah, muito obrigada!
São pequenas coisas que acontecem em San Giovanni Rotondo, porém carregadas de significado.

Livro: Caminhando com o Padre Pio
Clarice Bruno
Página 121

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