É o dia marcado para o meu casamento. Esta noite,por causa de uma tosse violentíssima,corri o risco de ficar sufocado. Durou desde a uma até as 4 horas da manhã,quando me levantei.Durante o acesso de tosse,estiveram sempre próximos de mim tanto meu pai,como minha irmã Lúcia,mas sem poderem me ajudar sequer com um copo de água,pois, do contrário,eu não poderia receber a santa comunhão.
Cheguei à igreja quase às 5 horas,hora do início da missa.Minha noiva,Giusi,estava me esperando junto à porta. A cerimônia deu-se no altar de São Francisco. Fora da balaustrada da mesa de comunhão,os freis tinham colocado dois genuflexórios de palha.Mas,para chegar aí, no meio de tanta gente,minha noiva quase perdeu completamente o véu branco que trazia na cabeça.Uma senhora tinha se apossado de um dos dois genuflexórios e não queria restituí-lo,a ponto de ser necessária a intervenção dos freis para consegui-lo de volta. Meu cunhado,Gaetano,trouxera uma máquina filmadora para filmar no altar.Contudo,a enérgica interposição de um frei,recém-designado para o convento,impediu-o de filmar,sob a ameaça de tomar-lhe a máquina se tentasse fazê-lo.Com o passar dos anos,eu soube que aquele frei era padre Pellegrino,que,depois de tanto tempo,disse-me,às gargalhadas,que o frei culpado era ele.
Devido à multidão que se apinhava ao redor,foi com grande dificuldade que Padre Pio conseguiu chegar ao altar.O nosso matrimônio foi celebrado pelo padre antes do início da missa.O povo,que estava amontoado,impediu que nossos padrinhos chegassem ao altar;por isso,foi preciso improvisar,como padrinhos e testemunhas,duas pessoas: Elligio D´Antonio,para minha noiva,e meu irmão Italo,para mim.Quando o padre nos dirigiu as perguntas do ritual,se nós dois nos queríamos como marido e mulher,respondi: “sim,quero”,e minha esposa disse o mesmo.Padre Pio permaneceu por um momento em silêncio e,logo depois,com o hissope,deu-nos um verdadeiro banho de água benta.Em seguida,disse: “Desejo-lhes uma santa prole que lhes dê conforto…”e,sem terminar a frase,virou-se para o altar e deu início à missa.Na patena,junto da hóstia grande,também tinham sido postas duas pequenas hóstias para nós.
As leituras da missa eram de São Rafael arcanjo,protetor dos esposos,cuja festa litúrgica estava sendo comemorada.Antes da recitação do Pater Noster,eu e minha esposa fomos chamados a subir ao altar e nos ajoelhamos no degrau do supedâneo,ao lado do padre;por detrás de nós,foi fechada a cancela de ferro.Assim,durante todo o tempo,desde o Pater Noster até a comunhão,permanecemos no altar,com a cabeça apoiada à casula do padre,até que ele,virando-se,nos deu a comunhão.
Terminada a missa,o padre entreteve-se por alguns segundos conosco,no altar,sorriu para nós e deu-nos beijar a mão coberta apenas pela renda da manga alva.Giusi sentiu nitidamente o vazio da chaga sob seus lábios.
Enquanto Giusi beijava-lhe a mão,o seu lenço tocou-a de leve e ficou impregnado de um perfume tão intenso,que as pessoas em volta o pegaram e o passaram entre si,cheias de admiração,para beijá-lo.
Por volta das 6h15,começa a amanhecer.Saímos da igreja. É um dia esplêndido;não há sequer aquele vento fastidioso que muitas vezes sopra por aqui.Depois de nos termos casado,Giusi e eu somos recebidos por Padre Pio na sala de espera.Padre Agostino nos acompanha.Conosco estão apenas alguns amigos.A conversa é variada,divertida e familiar.Depois,aproveitando o fato de padre Agostino estar conversando com meus amigos,peço a Padre Pio,com quem fiquei sozinho,para assinar um daqueles livros de recordação(em que existem espaço para as datas de nascimento,batismo,matrimônio etc).que trouxera comigo. Padre Pio responde categoricamente “Não”. Padre Agostino,que parecia todo concentrado na conversa e que estava de costas para nós,volta-se bruscamente e com voz imperiosa,acompanhada de um ainda mais impetuoso comando do dedo indicador,diz:”Ao contrário! Assine!.Padre Pio,como um cordeirinho,pergunta:”Onde?”.E padre Agostino: “Você fez as vezes do pároco,então,assine pelo pároco.”
Era a primeira página da agenda dedicada ao matrimônio,toda ornada com arabescos coloridos,sob cujo fundo estava impresso:” o pároco”. Padre Pio,a quem eu dera a caneta,assinou: “Pelo pároco,P.Pio,Capuchinho”.
Que obediência! Obediente quando disse! “Não”,porque os superiores lhe ordenavam não escrever;obediente quando assinou,porque era o superior que o mandava assinar;obediente na forma,porque,quando o superior lhe disse “Você fez as vezes do pároco,então,assine pelo pároco”,ele acrescentou “pelo”,antes da parte em que estava impresso “o pároco”,pondo em seguida a sua assinatura.
Peppino Fresu,do Comitê Sardo para a Casa do Alívio do Sofrimento,cita estas palavras do Padre: “ Obedeça prontamente. Não olhe para a idade,nem para o mérito da pessoa.Para conseguir isso,imagine que obedece a nosso Senhor”.
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