Encontrávamo-nos num hotel, mas não nos conhecíamos.
Foi ele a romper o silêncio, apresentando-se: “Sou o advogado Alberto Del Fante, de Bolonha, antigo 33 da maçonaria, recentemente convertido pelo padre Pio; escrevo livros sobre ele.”
Sem lhe perguntar nada, de repente, com convicção, começou a agradecer ao Padre que lhe tinha dado novamente a fé e expressar a alegria de lhe ter restituído a vida renovada, empregando-a a favor dos irmãos.
Depois continuou: “A minha mulher estava doente de cancro, moribunda, sem qualquer esperança. Algumas amigas tinham lhe falado do Padre Pio, um humilde frade de San Giovanni Rotondo, graças ao qual muitos voltavam curados de junto dele.
Estava á sua cabeceira quando com olhos cheios de lágrimas, a minha mulher me pediu para ir ter com o Padre Pio para lhe pedir a cura.
Ela sabia que eu era maçônico e um anticlerical feroz.
Eu inicialmente fui duro, melhor trocista; pensava: se a ciência não pode fazer nada, muito menos poderá fazer alguma coisa um simples frade. Depois, ao vê-la naquele estado lastimoso e a chorar, decidi fazer-lhe a vontade: Está bem, eu vou! Não é que eu acredite, mas é para ver se dá sorte.
No dia seguinte parti e à tarde estava em San Giovanni Rotondo. Na manhã seguinte, depois de participar na missa interminável, pus-me na fila para as confissões.
Chegada a minha vez, não ajoelhei imediatamente, fiquei em pé diante do Padre Pio pedindo-lhe para lhe falar por uns momentos.
O padre gritou com aspereza: “Moço, não me faças perder tempo! Que vieste fazer, ver se dá sorte? Se vieste confessar-te, ajoelha-te, se não deixa-me confessar toda essa gente que está à espera.”
Fulminado pela repetição da minha expressão e sacudido pela estranha dureza, quase mecanicamente e sem convicção ajoelhei-me.
Não estava preparado e não conseguia coordenar as palavras, muito menos recordar os pecados dos quais não tinha sequer consciência.
Pelo contrário, mal me ajoelhei, o padre mudou de tom e de tato: tornou-se amável e paterno. Melhor, sob a forma de perguntas, revelava-me sucessivamente cada um dos pecados da minha vida passada: tinha tantos!
Eu escutava as perguntas de cabeça baixa e respondia sempre; “Sim, sim.” Estupefato e comovido, tornava-me cada vez mais imóvel. No fim, o Padre Pio perguntou-me: “Tens mais algum pecado a confessar-me?” “Não”, respondi, convicto de que não teria mais nada a confessar, já que ele os tinha dito todos, e parecia conhecer perfeitamente a minha vida.
“Não te envergonhas?”, tornou ele com imprevisível dureza: “Aquela rapariga, que tu há pouco tempo deixaste partir para a América, teve um filho. E aquela criatura é sangue teu. E tu, malvado, abandonaste mãe e filho.
Era tudo verdade. Não respondi. Desatei num pranto incontrolável. Não agüentava mais.
Enquanto, de rosto escondido entre as mãos chorava, curvado sobre o genuflexório, o padre pousou carinhosamente o braço sobre os meus ombros e, aproximando-se do meu ouvido, sussurrou-me, a soluçar: “Filho, custaste-me o melhor do meu sangue!’
A estas palavras senti o meu coração despedaçar-se em dois, como por dulcíssima espada.
Chorava curvado e, aos poucos, levantava o rosto banhado em lágrimas e repetia-lhe: “ Padre, perdão, perdão, perdão!”
O padre, que já tinha o braço sobre os meus ombros, estreitou-me mais a ele e começou a chorar comigo.
Uma paz suavíssima inundou o meu espírito. De repente senti a dor lancinante transformar-se em gozo inefável.
“ Padre, disse-lhe, sou seu! Faça de mim o que quiser! E ele, enxugando os olhos, sussurrou-me: ‘Dá-me uma mão para ajudar os outros.” Depois acrescentou: “ Dá cumprimentos à tua mulher!”
Voltei para casa, e a minha mulher estava curada.”

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