Sexta-feira,20 setembro de 1968: era o 50º aniversário da estigmatização do Padre Pio. Na Igreja de Santa Maria das Graças não havia sinais exteriores de festa.
O único sinal que lembrava o doloroso acontecimento eram ramalhetes de rosas vermelhas deixadas pelos inumeráveis filhos espirituais, reunidos de toda parte do mundo, diante do crucifixo do coro, no quadro de Nossa Senhora e nos balaústres do presbitério. Nada de festas, portanto, mas recolhimento e oração, como queria o Padre Pio.
Seus filhos espirituais o cercaram de afeto e participaram da celebração de sua missa. Tarde da noite, na praça do Rosário, para onde dava a janela de sua cela, fizeram uma grande procissão de velas. No dia seguinte, o Padre Pio, extenuado pela asma, não pode celebrar a missa, mas quis comungar. De tarde, fez-se acompanhar à sacada para abençoar os filhos espirituais reunidos em San Giovanni Rotondo para celebrar a o IV Congresso Internacional dos Grupos de Oração, marcado para o dia seguinte. No domingo, 22 de setembro, o padre guardião pediu-lhe para celebrar a missa cantada, às cinco da manhã, na presença de 740 Grupos de Oração. Ele “reuniu todas as suas forças e, como sempre, obedeceu”. Assistido pelos padres Onorato e Valentim, dirigiu-se para o altar e lançou um olhar desfalecido para a multidão que superlotava a igreja.
Com voz cansada e trêmula elevou a Deus seu último canto, depois fixou os olhos de Nossa Senhora, suavíssimos, no grande mosaico. “Mãe, eis os teus filhos”, e chorou.
Tinham vindo de todas as partes do mundo para dar-lhe, sem querer, ainda um outro dia de paixão. Na consagração alguém viu, com assombro, suas mãos brancas, belas como as de uma criança. Os estigmas que durante cinquenta anos tinham-nas avermelhado, haviam desaparecidos. Sua missão tinha chegado ao fim. As cinco e meia o padre entoou o Ite missa est. Percebeu que seu coração estava para estourar. Desmaiou e se inclinou sobre si mesmo. A multidão teve um sobressalto. Das três naves elevou-se uma ovação. Tinha terminado a missa de um moribundo, de um homem que, misticamente, tinha deixado de viver.
Acompanhado numa cadeira de rodas pelos confrades, preocupados e amedrontados, Padre Pio foi conduzido para sacristia. Enquanto se afastava, dirigiu um olhar impressionante aos presentes. Elevou o braço e, com um nó na garganta, conseguiu dizer somente: “Meus filhos! Meus filhos!”. E sentiu-se assaltar por um ímpeto de amor.
No santuário, os Grupos de Oração estavam ouvindo os discursos oficiais. Padre Pio deveria saudá-los ao meio-dia, mas pelas 10h30, como abreviando os tempos, agitou um lenço branco da janela do coro, dando assim a sua saudação e a sua benção. Houve um delírio de aplausos. À noite apareceu novamente para saudar seus filhos. Um grito o atingiu: “Padre, nós o queremos bem!” Não podendo refrear as lágrimas, foi afastado de sua janela, que se fechou para sempre.
Padre Pio de Pietrelcina, que tanto amava o silêncio e a oração, deixou este mundo no coração da noite, “enquanto um quieto silêncio envolvia a terra e a noite estava no meio do seu caminho…”, como recita uma antífona natalina. E morreu rezando, invocando os amadíssimos nomes de Jesus e Maria.
Às 21 horas daquele 22 de setembro, era o turno do padre Pellegrino Funicelli; foi ele quem assistiu ao sereno trânsito do Padre Pio e deu o precioso testemunho sobre ele:
Pouco depois das 21 horas, o Padre Pio, por meio do interfone, chamou-me ao seu quarto: estava na cama, deitado sobre o seu lado direito. Perguntou-me somente a hora marcada no despertador colocado sobre a mesa. Enxuguei algumas lágrimas dos seus olhos avermelhados e voltei para minha cela, atento ao interfone sempre ligado.
O padre chamou-me outras cinco vezes, até a meia-noite. Tinha sempre os olhos vermelhos de pranto sereno, suave.
À meia-noite, como uma criança medrosa, suplicou-me: “Fica comigo, meu filho”, e começou a perguntar-me com muita frequência as horas. Olhava-me com os olhos cheios de súplica, apertando-me fortemente as mãos…
Em seguida quis confessar-se e, terminada sua confissão sacramental, disse: “Meu filho, se o Senhor me chamar hoje, peça perdão por mim a todos os irmãos, por todos os aborrecimentos que causei; e peça os confrades e aos meus filhos espirituais uma oração pela minha alma”. Depois pediu para renovar o ato da profissão religiosa.
Era uma hora quando me disse: “Ouça, meu filho, eu aqui na cama não estou respirando bem. Deixe-me sentar numa cadeira, talvez possa respirar melhor”. Depois disse: “Vamos um pouco para o terraço”, … Voltando para a cela, notei que o padre começava a empalidecer. Na fronte havia um suor frio. Apavorei-me, porém, quando vi que seus lábios começavam a se tornar lívidos. Ele repetia continuamente: “Jesus …Maria”, com voz cada vez mais fraca. Movimentei-me para ir chamar algum confrade, mas ele me impediu dizendo: “Não acorde ninguém “.Respondi-lhe com uma súplica: Pai espiritual, agora deixe-me ir. E rapidamente fui até a cela do padre Mariano, mas vendo a porta do Frei Guilherme aberta, entrei, acendi a luz e o sacudi: “O Padre Pio está mal”. Num momento frei Guilherme chegou até a cela do Padre Pio e eu corri para telefonar ao Dr. Sala. Este chegou depois de uns dez minutos e, apenas viu o padre Pio, preparou logo o necessário para aplicar-lhe uma injeção.
Quando tudo estava pronto, frei Guilherme e eu tentamos levantá-lo, mas não conseguindo, tivemos de acomodá-lo na cama. O doutor aplicou a injeção e depois ajudou a acomodá-lo na poltrona, enquanto o Padre Pio repetia com voz cada cada vez mais imperceptível:
“Jesus…Maria”. Aos poucos, chamados pelo Dr. Sala começaram a chegar Mario Penelli, sobrinho do Padre Pio, o diretor sanitário da Casa Alívio, Dr. Gusso, e o Dr. João Scarale; enquanto isso, chamados por mim, tinham já chegado o padre guardião, o padre Mariano e outros confrades. Enquanto os médicos aplicavam o oxigênio, primeiro com o tubo e depois com a máscara, o Padre Paulo de San Giovanni Rotondo administrava ao Pai Espiritual o sacramento dos enfermos e os outros confrades, ajoelhados todos ao redor, rezavam. Pelas 2h30, inclinou suavemente a cabeça sobre o peito; tinha expirado.
A noite tinha apenas passado da “metade do seu caminho” e o silêncio ainda “envolvia a terra”, rompido apenas pelo coro suave de vozes em oração.
Segundo os testemunhos de alguns filhos espirituais, ele sabia o dia de sua morte. No dia em que recebeu os estigmas, Jesus lhe havia dito: “Você os levará durante cinquenta anos, depois vira para mim”. E assim foi. O padre Carmelo de San Giovanni Rotondo, logo depois do passamento do Padre Pio, quis observar de perto os estigmas na presença de algumas testemunhas. Todos os presentes ficaram estupefatos com o novo prodígio: as feridas das mãos, dos pés e do lado tinham desaparecido completamente, sem deixar qualquer sinal ou traço de cicatriz. A falta de qualquer sinal de cicatriz representava então, “um mistério no mistério”.
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