De modo estranho, muitos aspectos do cotidiano do Padre Pio correspondem aos do cotidiano do seráfico padre Francisco. Não apenas no que se refere aos estigmas, às experiências místicas, à vida ascética, mas aos pontos de contato que os unem nas agruras do dia-a-dia, até mesmo nas mais banais.
Por exemplo, quando se lê nos Fioretti di san Francesco, obra-prima de ingenuidade, de candura e de uma singeleza desconcertante, que o seguidor de Assis, num momento de prostração, pede ao Senhor o conforto de um pouco de música angelical e o Senhor lhe manda um anjo para tocar uma melodiosa cítara, vem-nos à memória o comportamento semelhante do padre Pio, que em momento de tristeza punha-se alegremente a tocar uma gaita-de-boca, suscitando o entusiasmo dos meninos que o circundavam. Dom Francesco Maria Tasciotti, vice oficial do Tribunal Ordinário do Vicariato de Roma, que quando menino viveu por muitos anos perto do padre Pio assistiu inúmeras vezes a esses concertos improvisados. Também quando se lê que Francisco, perto do fim de sua vida, pedia ao “frade Jacopa” para levar-lhe “aqueles docinhos de pasta de amêndoas com açúcar que me davam para comer em Roma, quando eu estava doente”, do mesmo modo, vem-nos à lembrança o Padre Pio, “comovido e reconhecido”, agradecendo “de coração, diante de Jesus”, as uvas que lhe haviam mandado de presente.
São Francisco falou pouco e deixou poucos escritos, que consistem em orações curtas e recomendações, mas estas podem ser consideradas como um prolongamento de sua alma repleta de Deus. O Padre Pio escreveu muitas cartas a seus filhos espirituais, sem entretanto jamais assumir o papel de teólogo; ao contrário, por vezes revela-se bastante elementar e monótono pela repetição das ideias que lhe são caras (exortação à eucaristia, à confissão, à prece, à devoção por Nossa Senhora); mas, da pobreza de expressão emerge, como acontece com seu pai, o seráfico, a imponente estatura daquele que, quase em surdina, fala em nome de Deus.
Francisco e Pio souberam acolher os “sinais dos tempos” e compreenderam que a evolução histórica exigia um empurrão no imobilismo da vida estática do cristianismo de seu tempo. Este mostrava-se rico em exemplos de santidade, de caridade, de sustentação fraterna, mas não no ritmo do rápido desenvolvimento social.
Os dois grandes carismáticos souberam dar, sob o impulso do Espírito Santo, uma nova e esplêndida roupagem à Igreja: Francisco com sua Ordem tríplice, cuja poderosa instituição não definhará até o final dos tempos; Pio, deixando, num mundo perturbado pelo entusiasmo com o super-homem, um exemplo de humildade e de amor iluminado pelos irmãos, que se concretizou na realização de sua grande obra terrena, a Casa do Alívio do Sofrimento, destinada ao alívio dos males físicos e morais da humanidade, e na instituição dos Grupos de Oração.

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