Num final de tarde, em viagem no trem que ia de Bolonha para Roma, comecei a conversar com um jovem rapaz sentado à minha frente.
Fiquei sabendo que era um agricultor dos arredores de Pádua, que tinha aproximadamente sessenta empregados e que no ano anterior vencera o “Torneio Nacional de Produção de Trigo”.
Naquela época eu também era agricultor aspirante durante parte do meu tempo e enquanto ao nosso redor, naquele trem expresso de executivos, as pessoas discutiam cartas de crédito, licenças de importação ou coisas semelhantes, nós trocávamos interessantes ideias sobre valores comparativos de adubos orgânicos e químicos, pastos rotativos nas fazendas de criação de gado e outros assuntos campestres.
Perguntou-me se de Roma eu deveria voltar diretamente à minha base de trabalhos em Milão. Respondi que não; que prosseguiria para o sul.
_ Poderia saber qual seu destino? _ ele disse.
_Claro_ respondi__, vou para um pequeno lugar do qual provavelmente, você nunca ouviu falar: San Giovanni Rotondo. (Naquele tempo essa cidade ainda não tinha se tornado famosa nem mesmo na Itália.)
Ele olhou para mim, tirou uma fotografia da carteira e disse:
_ Padre Pio?
Eu peguei minha carteira, também tirei uma fotografia e respondi:
_ Ele mesmo!
Rimos entusiasticamente e eu lhe perguntei:
Já esteve lá?
_ sete vezes! _ respondeu; e continuou após uma pausa. _ Fui curado milagrosamente por Padre Pio antes mesmo de saber da sua existência.

E esta é a história de meu companheiro de viagem:
Certo dia em sua fazenda, pouco após o fim da guerra, ele sofreu um grave acidente e foi acometido por dupla embolia pulmonar. Receitaram -lhe inúmeros remédios modernos que pareciam fazer efeito por algum tempo; mas, em seguida, a embolia voltava com mais gravidade, e ele percebeu que estava para morrer.
Era jovem e forte e não queria morrer ainda. Era também religioso e inteligente; e rezou de uma forma que eu nunca tinha ouvido alguém rezar antes.
_ Com toda a devoção possível _ ele disse_ pedi a Deus que permitisse que alguém mais digno do que eu intercedesse por mim.
Era uma oração extraordinária que teve uma resposta igualmente extraordinária.
_ Tive_ continuou _ aquilo que só posso definir como uma aparição. Um frade com barba à minha cabeceira. Ele se inclinou e colocou a mão em meu peito, sorriu e desapareceu.
O jovem entendeu imediatamente que tinha sido curado e, para espanto dos médicos, isso foi plenamente confirmado. Mas ele não falou com ninguém sobre a “aparição”, exceto com sua mãe.
_ As pessoas pensariam que eu era louco ou neurótico _ explicou.
Assim, ele e sua mãe mantiveram o “segredo do rei” e deixaram os médicos e os outros com suas hipóteses. Ambos perguntavam-se, entretanto, quem seria o frade em questão; e concluíram, com bastante naturalidade, que devia tratar-se de algum santo do passado.
Passaram-se vários meses. Certa manhã, meu companheiro de viagem foi a Pádua tratar de negócios com um senhor, que depois resolveu convidá-lo para almoçar em sua casa.
_ Assim que entrei na sala_ disse meu companheiro _ fiquei petrificado, porque ali na parede havia não um quadro, mas uma fotografia do frade que me aparecera!
Perguntou ao dono da casa quem era o frade. A resposta e a descrição de Padre Pio ouvidas durante o almoço fizeram com que o jovem, dinâmico como era, partisse na mesma noite de trem para Foggia.
Chegou por volta de quatro horas da manhã seguinte, atordoado pela viagem improvisada e estranha. Encontrou um taxi na estação e chegou à pequena igreja de San Giovanni Rotondo exatamente a tempo de assistir à Missa de Padre Pio às cinco horas da manhã.
_ Quando Padre Pio subiu ao altar _ ele disse _ eu não tive mais dúvidas. Aquele era, com absoluta certeza, o frade que apareceu em resposta à minha oração.
Isso ocorreu no meio do inverno, quando não havia o aglomerado de pessoas que costumavam viajar durante o ano todo para San Giovanni Rotondo. Assim, em vez de precisar esperar vários dias para a Confissão (a maneira mais fácil de poder conversar com Padre Pio), o jovem conseguiu confessar-se naquele mesmo dia.
_ Aqui no trem _ disse meu companheiro_ posso assegurar que ainda revivo toda a emoção daquele momento. Padre Pio abençoou-me e eu me confessei. Depois, no final, Padre Pio perguntou-me com a voz mais natural do mundo:
_ “E agora diga alguma coisa sobre seus pulmões: como estão?”
_” Obrigado, Padre” _ respondi _, “estão perfeitos.”
_ “Foram examinados através de radiografias?”
_ “Sim, Padre.”
_ “Ótimo, graças a Deus. E Deus o abençoe.”
_ Você se admira _perguntou-me o jovem ao terminar seu relato_ de que eu continuasse a viajar a San Giovanni Rotondo ou de ainda arrepiar ao contar novamente este fato?
John McCaffery

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