Alguns de seus rompantes naturalmente chocavam. Poucos, porém, se apercebiam de que não se tratava de expressões de impaciência ou falta de compreensão com os penitentes, mas apenas de exteriorizações quase espontâneas do que experimentava internamente ao ouvir tantas barbaridades cometidas contra Deus. E se usava estes modos duros era para incutir nos penitentes a aversão ao pecado, uma sincera e profunda dor pela ofensa feita a Deus, uma determinação maior de evitar o mal e praticar o bem.
E por não levar isto em consideração, alguns sentiram-se no dever de adverti-lo num tom de leve censura. Ao que ele, às vezes com a voz embargada pelas lágrimas, explicava: “Faço-o para o bem deles. Se você soubesse quanto me dói mandar embora alguém! Mas é Deus que me ordena a fazê-lo.
Eu pessoalmente não despeço nem rejeito ninguém. Há outro, do qual sou instrumento inútil, que os chama e os manda embora. Mentalmente, entretanto, os acompanho, não lhes dou trégua até voltarem”.
Outras vezes é mais radical na resposta aos que estranham sua dureza:
“Como vou oferecer um doce a quem precisa de purgante? Se não faço assim, nunca se convertem”.
A própria Winowska presenciou uma destas cenas. Enquanto observava a fila das mulheres que aguardavam sua vez, ouviu bater forte a janelinha do confessionário, aos gritos de “vá embora, vá embora, não tenho tempo para você”. Padre Pio endereçava estas palavras a uma senhorita loira, que se afastava aos prantos.
Desconcertada, Winowska procura o frade porteiro da igreja.
– Como é possível que ele mande embora os penitentes deste jeito? Suas maneiras são rudes demais.
– É que – explica ele, cheio de indulgência – o padre Pio lê as consciências e manda embora as pessoas mal preparadas.
– E se elas não voltarem mais?
– Não se preocupe. Não as mandaria embora se não soubesse que voltariam depois. Para lavar um coração é necessária uma chuva de lágrimas. Um bom médico não hesita em usar bisturi.
– Então esta moça… – insiste Winowska.
– Fique tranquila. Ela talvez tenha vindo movida pela curiosidade. Com muitas delas acontece assim. Padre Pio o sente. Não quer que venham confessar-se para o ver. Isto não é confissão! Dentro de dois ou três dias, está moça voltará preparada. O Padre certamente já rezou por ela. Mas a graça precisa de algum tempo para agir.
Conforme o testemunho dos que o conheceram, negava a absolvição mais do que qualquer outro padre. Pelo menos trinta por cento dos penitentes – segundo Bello Castello – eram mandados embora sem absolvição. Por que fazia isto? Sobretudo pelo perigo das Comunhões sacrílegas. De resto, qualquer negligência que significasse desrespeito ao Santíssimo Sacramento era tomada muito a sério. Assim, genuflexões apenas esboçadas, conversas na igreja, visitas rápidas a imagens de santos, com esquecimento do Rei, postura desrespeitosa diante do sacrário, eram a seus olhos faltas sérias, pois denotavam ausência de fé e de amor naquele que, por amor, quis tornar-se o Divino Prisioneiro dos homens.
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