Compreende-se então que, diante de tamanhas exigências: oração diurna e noturna, silêncio, sacrifícios físicos, frio, trabalho manual, humilhações e jejuns, e isto ao longo de um ano inteiro, muitos entregavam os pontos. Quem, no entanto, resistia e assimilava aquele gênero de vida, transformava-se num “colosso de energia psíquica e de vitalidade espiritual”.
Para frei Pio, o ano de noviciado foi uma oportunidade ímpar de aprofundar a realidade da presença de Deus em sua vida. Essa realidade o empolgava de tal maneira que, mesmo nos anos seguintes, não se deixaria distrair pelas ocupações exteriores, nem mesmo pelos estudos teológicos, nos quais, aliás, nunca sobressaiu. Simplesmente porque pouco ou nada estudava. Apenas abria um livro, sentia-se absorto em Deus e entrava em oração. Dava a impressão que vivia para rezar. A oração era sua respiração, sua vida. “Nós seus companheiros de classe – contará padre Leone, que foi seu colega de 1903 a 1908 – tínhamos a impressão de que estudava pouco, embora na aula sempre soubesse responder. Eu, como bedel, ia seguidamente à sua cela, e quase sempre o encontrava ajoelhado. Posso dizer que era um estudante de oração continua”.
Atrás da oração vinham as lágrimas. Este dom das lágrimas, que a Igreja pede com especial insistência, nunca faltou ao padre Pio. “Rezando – continua Leone – ele chorava sempre, em silêncio e com tanta abundância que deixava as marcas no piso. Nós gracejávamos com ele por causa disto. Ele então passou a estender no chão um grande lenço, cada vez que ajoelhava para rezar”.
“Nós mesmos – escreverá anos depois sua biógrafa Maria Winowska – o vimos chorar durante a Missa. Grossas lágrimas caíam na tolha, nos paramentos. No confessionário tinha sempre consigo seu lenço quadriculado, e não eram apenas gotas de suor que enxugava em certos dias. Nós o vimos contrair-se, ofegante, diante da maré de lodo que o cercava, e dizer: ‘Por hoje basta’.
Depois de certas confissões especialmente cansativas, seus soluços diante do altar tornavam-se lancinantes, e as lágrimas rolavam ardentes.”
Por que e por quem chorava? _ pergunta ela. Chorava pelo pecador, que prefere o pecado à sua alma preciosa. Chorava pelo sangue de Cristo, que para muitos fora derramado em vão. Chorava pela criação profanada e pelos insucessos da graça. Chorava enfim porque o próprio Jesus tinha chorado.

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