Esses eram os menores fardos de Padre Pio. E mesmo se agora podemos rir deles, como o próprio Padre Pio fazia, eram muitas vezes precisamente a gota d’água para que ele quase chegasse ao limite.
Pelo menos é o que imagino.
Porém, a Srta. Elena Bandini tinha companheiras em San Giovanni Rotondo. Além daquelas que já mencionei, havia mulheres cuja vida de dedicação e sacrifício era um digno reflexo da vida que as havia inspirado. Tal era, por exemplo, a Srta. Cleonice Morcaldi.
Soube seu sobrenome, Morcaldi, somente agora. Por todos aqueles anos, eu a conheci apenas pelo nome que todos a conheciam naquele pequeno mundo: Cleonice.
Ela era uma das mais antigas discípulas de Padre Pio, um dínamo silencioso de boas obras e um pilar de bom-senso. Certa vez, falando com Gino Ghisleri, Padre Pio refereriu-se a Cleonice como “minha filha celestial”; e foi Gino que que me apresentou a ela.
Sua casa era tão caprichada e organizada quanto ela e possuía o mesmo ar reservado. Gino tinha me levado lá não somente para conhecê-la e visitar sua casa, mas para ver outra coisa. E depois da cortês conversa inicial, com sua habitual e franca objetividade, Gino disse:
— E agora Cleonice, mostre-lhe o quadro!
Cleonice hesitou por um momento, mas depois me conduziu para diante de um quadro que estava pendurado na parede e coberto com uma espécie de véu. Ela levantou o véu e surgiu um quadro muito impressionante de Padre Pio, cabeça e ombros. A face era coberta de sangue e sofredora, e em sua cabeça havia uma coroa de espinhos. Todavia, era diferente. Os espinhos não eram entrelaçados de forma circular, como normalmente são representados na cabeça de Nosso Senhor. A coroa era apenas uma massa desordenada de espinhos pressionados sobre a cabeça; e, se pensarmos bem, é exatamente como deve ter sido.
O quadro tinha uma história; uma história que começou com uma moça piedosa enamorada de um rapaz que havia perdido a fé. Ela tinha dito a ele que não poderiam se casar, a não ser que ele retornasse à Igreja. Tinham argumentado e discutido sem resultado. Finalmente, por sugestão dela, ele consentiu, embora descrente, em acompanhá-la até San Giovanni Rotondo.
Na primeira manhã da visita, eles foram juntos àquela Missa celebrada tão cedo, e a moça maravilhou-se ao ver seu noivo olhando fixamente para o altar, pálido e visivelmente perturbado.
— Isso acontece todos os dias? — ele sussurrou.
— Sim. — ela respondeu, ainda mais surpresa, ignorando o verdadeiro significado daquela pergunta.
Somente quando saíram da Igreja ele explicou sua emoção. Ele tinha visto uma massa de espinhos sobre a cabeça de Padre Pio e o sangue escorria por sua face. E naturalmente estava convencido de que todas as outras pessoas estivessem vendo a mesma coisa.
A moça não apenas ficou estupefata mas muito preocupada. Pensava que ele estivesse dissimulando, por algum motivo que ela não entendia, ou que ele tivesse sido vítima de alguma espécie de alucinação, fruto da emoção.
Todavia, quando depois de sua confissão a moça perguntou a Padre Pio se seu noivo tinha visto mesmo o que lhe havia relatado, Padre Pio confirmou-lhe que ele realmente tinha visto. ( E isso, por sua vez, era uma evidência suficiente, para qualquer um de nós, de que o corpo de Padre Pio trazia não somente os estigmas visíveis das cinco chagas, mas também os estigmas invisíveis dos sofrimentos da flagelação e da coroação de espinhos.)
Padre Pio Histórias e Memórias
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