A espetacular conversão do advogado Festa suscita uma série de outras igualmente impressionantes. Uma delas é a do Dr. Enzo Saltamerenda, diretor do Instituto Bioterápico de Gênova, que abandonara a fé ainda jovem. Aos catorze anos declarara publicamente que não precisava mais de Deus. E a partir daí o excluiu totalmente de sua vida. Agora tudo lhe era permitido. Sentia, no entanto, uma insaciável desejo de aprender. Passava o tempo folheando e lendo os livros da vasta biblioteca do pai. A própria Bíblia não escapava à sua avidez, na esperança de encontrar nela alguma justificativa para seu ateísmo.
Subitamente, porém, a guerra interrompeu seus estudos universitários.
De gênio indócil e rebelde à disciplina militar, acabou na prisão. E dali, no campo de batalha. Ferido em Tobrouk, numa batalha entre ingleses e alemães, foi parar num campo de concentração da Alemanha. Outros ficariam arrasados psicologicamente no meio de tanta desgraça. Ele, porém, saiu de lá mais obstinado que nunca, seu orgulho nunca foi tão grande. Estava convencido de que sua sorte dependia exclusivamente dele. De Deus, nem falar.
Um dia, ao visitar o amigo Mário Cavaliere, seu olhar se detém numa estampa de padre estigmatizado, pendurada na sala. O impacto é tamanho que sente um nó na garganta e uma emoção que chega a ser percebida pelo amigo. Esse, prontamente, manda tirar uma cópia da estampa e lhe oferece.
Dois dias depois, movido por alguma coisa irresistível, Enzo toma um táxi e toca-se para San Giovanni Rotondo. Apenas chegado, porém, começa a questionar-se: “Com a breca, que vim eu fazer neste fim de mundo?”.
No meio da multidão anônima, aguarda a chegada do padre Pio que, terminada a Missa, encaminha-se para a confissão dos homens na sacristia.
Ao ver o Dr. Saltamerenda, o interpela por cima das cabeças:
– Genovês, genovês, não vê que está com a cara suja? Mora a dois passos do mar e ainda não aprendeu a lavar-se? A sua barca é sólida, mas ninguém a governa.
Saltamerenda sente um arrepio percorrer-lhe a espinha. Compreende a quem o Padre se refere e decide lavar-se logo no confessionário. Começa gaguejando um pedido de cura de uma parenta.
– Eu a abençoo – responde o Padre. Mas diga, Filho, você já pensou alguma vez na sua infeliz alma?
– É claro, do contrário não conseguiria viver.
– E qual é seu objetivo na vida?
– Fazer as pessoas felizes.
– Infeliz! – explode o Padre. – Não vê que está precipitando sua alma na perdição?
E colocando-lhe a mão sobre a boca:
– Pode ir!
Como acontece com certa frequência, padre Pio não lhe dá logo a absolvição. Ele precisa de algum tempo para avivar em si o arrependimento.
Confuso, Saltamerenda sai caminhando, interna-se a esmo pelos arredores, pedindo ajuda ao céu. De repente nota que um forte perfume de violetas o segue como uma onda. Lá adiante topa com um frade, que ao vê-lo tão solitário e atormentado, pergunta o que está acontecendo. Tomá-lo pelo braço e o leva à cela do padre Pio. Sobre a entrada, um pequeno cartaz proclama:
“A glória do mundo tem por companheira a tristeza”.
Ao abrir a porta, o eflúvio perfumado sentido há pouco espalha-se pelo corredor. Padre Pio está à sua espera. O penitente encontra ali a ajuda que buscava. Jeitosamente, o Padre vai refrescando sua memória, lembrando-lhe até às faltas mais ocultas e esquecidas.
O encontro termina com o seguinte diálogo:
– Filho, você acaba de preparar um pão magnífico.
– Que devo fazer com ele agora?
– Cortá-lo em fatias e distribuí-lo aos que precisam. Desta maneira estará servindo a Deus,… pode contar comigo, sempre.
O Dr. Saltamerenda soluça como uma criança. Está vivendo o momento mais feliz de sua vida. O efeito daquelas palavras é decisivo na sua transformação interior que ele acabará pondo à disposição de Deus sua profissão, seus bens, sua vida.
-livro Padre Pio O Santo do Terceiro Milênio
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