Não menos impressionante é o caso de Mary Mc Alpin Pyle. Filha de um próspero industrial de sabão de Nova Iorque — popularmente conhecido como o “rei do sabão”, era uma bela moça: alta, loira, inteligente e muito cortejada.
Dona de uma fortuna colossal, passava seu tempo viajando pelo mundo. Nada, porém, conseguia preencher o vazio de valores espirituais que experimentava, e que o protestantismo, no qual fora batizada, não conseguia satisfazer.
Tinha-se recém-doutorado em Pedagogia quando tomou conhecimento de um método revolucionário sobre a atividade infantil, que bem logo conquistaria admiradores do mundo inteiro. Sua criadora era pedagoga italiana Maria Montessori, de quem logo se tornou amiga, admiradora e, por fim, colaboradora.
Durante suas viagens, teve ocasião de estudar a religião católica, para a qual sentia-se atraída, cativada sobretudo pela devoção à Eucaristia e a Nossa Senhora. Depois de uma séria preparação, em 1918, em Barcelona, recebeu o batismo na Igreja Católica.
Como sinal de sua conversão, resolveu trocar de nome: de Adélia, como se chamava, para Mary, Maria.
A notícia da mudança de religião, porém, ecoou como uma traição à crença tradicional de sua família, que simplesmente a deserdou da parte a que tinha direito. Isto, entretanto, não arrefeceu sua ânsia por valores específicos mais profundos. Para alcançá-los, porém, sentiu necessidade da orientação de um bom diretor. Com esta finalidade – conta ela – “comecei uma novena a Nossa Senhora da Pompeia. Em seguida parti com Maria Montessori para Roma, onde passei a ir diariamente à Igreja do Gesu pedindo a Nossa Senhora que me ajudasse a encontrar um santo guia para minha alma”.
Era o ano de 1920.
Apenas tomou conhecimento do fenômeno da estigmatização do padre Pio, ela ficou ansiosa de conhecê-lo, mas por “mera curiosidade”.
A satisfação dessa curiosidade só teria lugar três anos depois, quando já andava pelos trinta e cinco anos.
O encontro, porém, foi um tanto decepcionante.
— O que deseja? – perguntou ele.
— Vim por curiosidade.
Padre Pio olhou para ela com afeto, mas nada respondeu.
” No fim das contas – pensou consigo – trata-se de um pobre frade. Como posso pensar em resolver com ele minhas inquietações, meus problemas?”
Semanas depois, na ilha de Capri, onde costuma veranear, ela tem um sonho. Vê-se numa carroça, assentada à esquerda de Maria Montessori, que empunha as rédeas. O caminho é acidentado, e a atmosfera, fria, com neve e chuva. De repente a cena se inverte. Surpreende-se à direita de um frade, que toma a direção da carroça. Reconhece nele o padre Pio. O cavalo corre veloz por uma ladeira acima. A noite está calma e sedutoramente agradável. A atmosfera límpida e luminosa parece penetrava por uma luz branca. A rua desemboca numa construção, que identifica como sendo a igreja de Nossa Senhora das Graças. O Padre detém o cavalo e diz:
— Chegamos!
O sonho termina. Mary Pyle sente- se inquieta e decide aclarar o mistério. É 4 de outubro de 1923, quando volta a San Giovanni Rotondo. Padre Pio, apenas a enxerga na Igreja, se aproxima e lhe murmura:
— Bem-aventurados os que se assentam à direita. Chegamos!
“Eu caí de joelhos – conta ela – e consegui apenas murmurar: ‘Padre’. Sobre minha cabeça ele pousou sua mão estigmatizada, acrescentando: ‘Filha, chega de viajar. Fique por aqui!’ ”
Realmente, ela tinha chegado para ficar. No momento não podia sequer ter ideia da caudalosa benção que, a partir dali, começaria a descer sobre sua vida. Naquele olhar intenso, descobria o diretor espiritual que sempre sonhara. “San Giovanni Rotondo – lembra Clarice Bruno — era naquele tempo um local rústico, distante do mundo e desprovido até do mais essencial: estradas, iluminação, água… Para lá subiu ela heroicamente, bem preparada com cinco línguas estrangeiras, boa formação musical e grande amor ao canto, com muitos anos de preparação nas melhores universidades particulares da América, com um bom conhecimento do sistema educacional Montessori, bastante viajada e acostumada, desde pequena, a todo tipo de mordomias”.
Começou imediatamente a construir sua residência. “Um dia – conta ela – eu estava rezando no primeiro piso da nova casa, que ainda não tinha as paredes completas. Eram tempos difíceis. No começo da noite ouvi passos na horta. Meio assustada, chamei o guarda José Mangiacotti, que acudiu com sua escopeta. Por sorte, nada aconteceu. Jantamos sossegados. Terminando o serviço da cozinha, a filha do guarda jogou a bacia de água pela janela, e foi dormir. Na manhã seguinte, Mangiacotti foi à Missa do padre Pio e fez questão de lhe contar o acontecido:
— Padre, que susto levamos esta noite! Ouvimos rumor de passos e pensamos que poderiam ser ladrões… Esperamos terminar quanto antes a obra, para ficar mais tranquilos.
E com esta vocês me encharcaram dos pés à cabeça! — exclamou o Padre com um sorriso maroto”.
Assim era o padre Pio. Quando tomava alguém sob seus cuidados, por nada do mundo a largava. Acompanhava-o sempre, estivesse onde estivesse. E no presente caso, não apenas a pessoa de sua filha espiritual, mas também a casa dela, que haveria de se tornar centro de irradiação de muitas graças. E ele podia fazê-lo sem sair da cela, graças ao carisma da bilocação.
Mary Pyle – prossegue Clarice Bruno — ” tornou-se irmã da Ordem Terceira de São Francisco, e como se estabelecera entre gente pobre convenceu-se de que só poderia ser-lhe útil se vestisse pobremente como eles. Por isso, em lugar de um traje elegante, envergava agora o burel franciscano, com escapulário, cordão e rosário.
Dominando perfeitamente cinco idiomas, transformou-se numa das secretárias mais eficientes do padre Pio, capaz de comunicar-se com gente de todas as partes do globo. Foi anfitriã de inúmeros peregrinos que, vindos de longe, sentiam-se quase perdidos naquele fim de mundo… Numa sala relativamente ampla, ajudava as mulheres pobres analfabetas, que ali iam para aprender a ler e escrever. Catequisava os jovens e divertia- se com eles jogando loto. Junto ao piano, recebiam lições de música e ensaiavam cantos. E foi deste grupo que nasceu um coral”.
Em pouco tempo tornou- se uma figura querida à população, que afetuosamente a chamava de a americana ou de filha do rei do sabão.
Na casa dela também passaram seus últimos anos os pais do padre Pio. Seu mérito maior, porém, foi o financiamento e a construção da Igreja e do convento dos capuchinhos em Pietrelcina, terra natal do padre Pio.
Mary Pyle atingiu uma idade avançada, morrendo apenas alguns meses antes de seu diretor espiritual, ao qual dedicara.
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