No mais absoluto silêncio, ao toque do sino, padre Pio sai pontualmente, vestido com os paramentos sagrados, para celebrar o sacrifício divino.
Ei-lo que se dirige, nas primeiras horas da manhã, em direção ao altar, com o passo pesado e arrastado. Tem as costas encurvadas, como se carregasse um peso invisível.
Ao soar os sinos, que anunciam o início da Missa, um frêmito de admiração maravilhada e um murmúrio comovido percorrem a multidão de fiéis, aos quais se segue um profundo silêncio de recolhimento.
A figura de Jesus, como todos os sacerdotes, sobe os degraus: “Perdoa, ó Senhor os nossos pecados, para que, com a alma pura, possamos nos aproximar do altar do santo sacrifício…”. E por alguns minutos ele fica curvado em profundo ato de adoração.
Na leitura das passagens bíblicas, a voz rouca mas penetrante parece imersa na profundidade dos tempos, vibrando em uníssono com o apóstolo ou com o salmista, velada de misterioso tom profético; mas, ao Evangelho, estranhamente se reaviva, quando ele se volta quase completamente em direção aos fiéis, do lado esquerdo do altar, anunciando aos presentes e a uma multidão invisível, que está por trás dele, a alegria e a luz da boa nova.
Está para começar o ofertório, o primeiro dos três grandes atos — ofertório, consagração, comunhão — da Missa.
Seus olhos parecem imersos numa dimensão infinita, que se torna quase sensível aos fiéis unidos num só espírito para louvar, oferecer e suplicar durante os dez minutos da elevação da patena e do cálice.
Depois de se ter prostrado profundamente, volta-se em direção ao povo, a fim de convidá-lo para a prece comum: Oremos irmãos…”.
As mãos estigmatizadas do frade, abertas ao convite à prece, mostram as chagas sangrentas. Passam-se apenas alguns segundos, mas a impressão daquele sangue faz vibrar, de modo especial, a voz dos presentes: “Aceita, Senhor, o sacrifício de tuas mãos…”. Aquelas mãos sanguinolentas estão agora juntas numa prece suplicante. O rosto do celebrante é de uma palidez luminosa.
Lentamente, pega a hóstia, pronuncia a fórmula da consagração e depois eleva à adoração profunda dos presentes o Corpo “dado” e o Sangue “derramado” por todos, pelo Senhor.
Seus olhos profundos estão fixos sobre aquela Hóstia e sobre aquele Cálice que desvendam para ele realidades vetadas aos outros.
Tem-se a sensação intensa de que o altar e o calvário se igualam.
Intui-se o tremendo mistério que está acontecendo sobre o altar. O Padre Pio, desprovido de forças, empapado de suor e com o rosto resplandecente de uma luz quase divina, indescritível, vítima associada à Vítima divina, abandona o peso do corpo nos braços que o sustentam no altar. Com o rosto marcado por lágrimas contidas com dificuldade, prossegue com uma enorme humildade a ação litúrgica, suscitando a certeza de que uma troca divina está acontecendo entre a criatura e o Criador, entre o ministro e Cristo Sacerdote, entre o místico e a Vítima divina.
Como por força de atração, os fiéis constituem com o celebrante um único coração e uma só alma a adorar, suplicar, reparar e agradecer ao Senhor.
Muitos devotos do Padre Pio de várias partes do mundo, afirmaram que, enquanto aqui se cumpria o grande mistério e a alvorada ainda demorava a surgir, sentiram-se libertados repentinamente de males físicos e espirituais, ou até mesmo de laços que os mantinham apertados como em um sufocante pesadelo.
Quem poderá algum dia compreender o significado da Missa? Quem saberá algum dia dizer com que veneração e concentração se deve participar dela?
“Ao participar da Santa Missa”, escreve o padre Pio, concentre-se completamente no tremendo mistério que acontece sob seus olhos: a redenção da sua alma e a reconciliação com Deus.”
… Seguem-se humildes, intensas, recolhidas, as preces para os mortos, a súplica pela intercessão dos santos e a invocação do Pai-Nosso. Depois a voz cansada parece reanimar-se um pouco. “Livra-nos, ó Senhor, de todos os males… pela intercessão da santa e gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus”.
A ação litúrgica que se segue em preparação à comunhão desenvolve-se num íntimo colóquio do qual se podem ouvir apenas algumas palavras murmuradas com dificuldade: “Não olhes para meus pecados, mas para a fé que anima a tua Igreja…
Depois, o momento solene da comunhão. “Senhor, não sou digno”.
Consumidas as sagradas espécies, morrendo misticamente com Jesus, fica imóvel, por alguns minutos reclinado sobre o altar.
A Missa chega ao fim. Purificados cuidadosamente os vasos sagrados e recitados as últimas preces, o padre apressa-se em dar a benção final, a mais rica dentre todas aquelas que ele dará durante o dia. Os olhos de todos elevevam-se em direção àquela mão que abençoa, ainda manchada por gotas de sangue.
A Paixão de Cristo foi celebrada, a Paixão foi revivida, a Paixão foi renovada.

O São Francisco de nosso tempo
Luigi Peroni
Página 79

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