Do livro de Alberto Del Fante começamos destacando o caso do fotógrafo alemão Frederico Abresch. Em 1918, poucos meses antes do fim da guerra, ele foi surpreendido na trincheira por um soldado inimigo, que o fez prisioneiro. Antes, porém, de enviá-lo ao pelotão de fuzilamento, quis arrancar-lhe uma lembrança. Albresch nada tinha no bolso, além de umas fotos tiradas na Hungria. Numa delas aparecia com a cruz de honra no peito. Exaltado, o invasor lhe gritou:
– Ah, um bom soldado, eh! Tome cá então.
E desfechou-lhe um tiro. O projétil perfurou a testa, aniquilou o nervo óptico direito, mutilou as cordas vocais e saiu pelo pescoço.
Abresch sentia-se morrer, quando chegou uma viatura da Cruz Vermelha. Recebeu os primeiros socorros e, com um emplastro no pescoço e outro no rosto, seguiu para o campo de prisioneiros alemães. O médico constatou a perda do olho direito, adiantando-lhe que, na melhor das hipóteses, ficaria com problemas na deglutição e na fala.
Passada a guerra, voltou para a sua Alemanha. Mas encontrou só desolação e ruínas. A população, humilhada e desalentada, com muita dificuldade conseguia retomar sua vida normal.
Abresch resolveu então emigrar para o sul. Em 1920 estava em Bolonha, onde conheceu aquela que viria a ser sua esposa. Abjurou o protestantismo e tornou-se católico para poder casar-se já que esta era a condição.
Abresch vivia feliz. A maior sombra do seu casamento era a impossibilidade da mulher engravidar, por causa de um fibroma no útero. Os médicos insistiam que se deixasse operar, mas ela resistia.
Quando o tumor já atingia proporções enormes, ouviu falar nos milagres do padre Pio, e convidou o marido a acompanhá-la a San Giovanni Rotondo. E ele, novamente por convivência, concordou em ir. Por insistência dela, também aceitou confessar-se, já que esta parecia ser a condição para receber uma graça.
Mas deixemos que ele mesmo nos conte:
“Em novembro de 1928, quando me dirigi ao padre Pio, não tinha fé.
Nascido numa família protestante e ferrenhamente antirromana, me tornara católico por mera conveniência. Os dogmas pouco ou nada significavam para mim interessava-me, isto sim, pelas ciências ocultas; um amigo me iniciou no espiritismo. As mensagens de além-túmulo, porém, me pareciam pouco concluintes. Lancei-me então na magia, e a seguir, na teosofia. Passava o tempo lendo livros sobre estes assuntos. Eles atulhavam minha biblioteca. Para não desagradar à minha mulher, de tanto em tanto eu me aproximava dos sacramentos, mas sem convicção.
Um belo dia ouvi falar num capuchinho estigmatizado que, segundo se dizia, operação milagres. Picado pela curiosidade, mas também pensando na minha mulher doente e em vésperas de uma cirurgia que a privaria para sempre das alegrias da maternidade, decidi tentar a sorte. E viajei para San Giovanni Rotondo.
O primeiro contato com o Padre me deixou frio. Disse-me algumas palavras, muito secas para o meu gosto. Eu contava com um acolhimento mais caloroso, depois de uma viagem longa e cansativa. Mesmo assim, decidi confessar-me.
Apenas ajoelhei, tive a surpresa de ouvi-lo dizer-me que todas as confissões anteriores tinham sido sacrílegas, pois me confessara sem preparação, além de omitir alguns pecados graves. E me perguntou se estava em boa-fé. Respondi que considerava a confissão um costume socialmente útil, mas não acreditava no seu caráter sobrenatural. No entanto, alguma coisa me levou a acrescentar:
– Agora, padre, eu acredito.
Ele falou-se um instante. Depois, com uma visível expressão de dor, me disse:
– Filho, isto é uma heresia. Suas comunhões também foram sacrílegas. Você precisa de uma confissão geral. Faça um bom exame de consciência e procure lembrar quando foi a última confissão bem-feita. Jesus está sendo mais misericordioso com você do que o foi com Judas.
Encarou-me com expressão severa, acrescentando:
– Sejam louvados Jesus e Maria.
Levantou e foi à igreja confessar as mulheres. Atordoado e frustrado, fiquei aguardando sua volta. Aquelas palavras continuavam reboando em meus ouvidos: ‘ Procure lembrar quando foi sua última confissão bem-feita’.
É verdade que, ao me tornar católico, fui rebatizado sob condição e que o batismo cancelara todos os pecados da minha vida passada. Era também verdade que, logo depois, fizera uma boa confissão, mas, para maior tranquilidade, decidi confessar todos os pecados, desde a infância.
Minha cabeça estava numa zoeira só quando o Padre voltou.
– Então, quando foi sua última confissão bem-feita?
Comecei a gaguejar alguma coisa, mas ele me interrompeu:
– Chega. Sua última confissão válida foi na volta da lua de mel. Deixemos então o resto de lado e comecemos por aqui.
De fato, naquela ocasião, minha mulher tinha-me enviado ao padre que me instruíra antes da conversão, justificando que ‘ele o conhece e vai ajudá-lo’. Ali com calma, pude responder a todas as perguntas com um ‘sim’ ou ‘não’. Nas confissões posteriores, porém, omitira muitas coisas, que só Deus e eu conhecíamos.
” Sentia-me atordoado. Sem deixar tempo para me concentrar, padre Pio, com voz segura e perguntas bem precisas, começou a elencar um a um os meus erros, cometidos ao longo dos anos. Chegou a dizer o número de Missas de preceito a que tinha faltado”.
Para Abresch foi o fim da teosofia e das pretensas ciências ocultas.
“Após me lembrar, um a um, meu pecados mortais – prossegue Abresch – acrescentou: Depois dessa confissão, você andou cantando pelas ruas um hino a Satanás, mentre Gesù Nel suo sviscerato amore si è rotto il collo per lei, enquanto Jesus, no seu entranhado de amor, entregou sua cabeça por você”.
Estremeci. Tinha sido bem assim.
Com a absolvição me senti tão leve e feliz como se ganhasse um par de asas. Na volta à cidade com os peregrinos, eu mais parecia um menino travesso do que um adulto.
Humanamente falando não é fácil explicar o que me acontecera. Padre Pio via-me pela primeira vez. No entanto, durante a confissão lembrou-me coisas completamente esquecidas. Estava a par até dos mínimos detalhes e punha-os bem em relevo quando a integridade da confissão o exigia”.
Profundamente reconhecido, o casal decidiu estabelecer-se em San Giovanni Rotondo. Como fotógrafo, Frederico dedicou seu trabalho inteiramente ao padre Pio. São de sua autoria as fotos mais famosas de que ainda hoje circulam pelo mundo.
A mudança interior foi tão radical que ambos passaram a assistir Missa diariamente e tornaram-se membros da Ordem Terceira de São Francisco.

Livro Padre Pio O Santo do Terceiro Milênio/pág 228

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