Foi na Stazione Termini que decidi, bruscamente, tirar um bilhete para Foggia. Situado nas encostas do Monte Gargano, feudo venerável de São Miguel Arcanjo, pelo menos à noite em San Giovanni Rotondo há de correr fresca aragem. Com uma só pedra, atingia dois alvos. Forneceria ar puro aos pulmões e teria ocasião de ver o Padre Pio. Será a maneira de ficar com a consciência tranquila, pensei e subi para o comboio.
A partir de Nápoles, estar dentro do meu compartimento equivalia a estar dentro de uma estufa. Na minha frente, um jovem casal destilava grossas gotas de suor com notável estoicismo. Sobre os joelhos da mamã, sem se deixar perturbar pelo calor, um bebê rechonchudo chilreava sem cessar. O pai inventava mil estratagemas para o distrair, pletórico de orgulho bem visível. Lançavam-me olhares furtivos os felizes progenitores; compreendi bem como desejavam saber se eu concordava com os motivos de uma vaidade, tão eloquente. E foi como um dique, subitamente aberto, quando lhes dirigi a palavra em italiano. Pois, não fossem eles de Nápoles! Tinha-os chocado – era bem de ver – o mutismo. Não é de < cristão > não travar imediatamente relações, quando se viaja em companhia. Na onda de palavras, em alegre mistura, um nome fez-me arrebitar a orelha! o Padre Pio. Vai ver o Padre Pio?
Então o pai agarrou no bebê com as grossas mãos de operário, abraçou-o em transporte efusivo e disse-me, marcando bem cada palavra:
< Sem o Padre Pio, o nosso Giovannino não teria nascido! Vamos agradecer-lhe tamanha graça >.
Evidentemente, logo desejei saber mais alguma coisa. Com volubilidade bem meridional, entrecortando a narrativa com abundância de exclamações, tomando por testemunho a Madona, contaram-me o que se segue.
( É claro que resumo e abrevio).
Gino era descarregador no cais de Nápoles, e inscrito no partido comunista.
Antes do casamento, Francesca sofrera um acidente de bicicleta.
A primeira gravidez, a sentença dos médicos não admitiu apelação. Para salvar a mãe era necessário sacrificar a criança. Desesperada, Francesca escreveu uma carta ao padre estigmatizado, carta que não obteve resposta.
Na véspera da operação estava só na cama banhada em lágrimas.
< Sabia que a Igreja condena o aborto? >, perguntei-lhe.
< Não ia à Igreja – respondeu-me em voz baixa – meu marido não o consentia. — Nesse dia, de súbito, vi um < monge vestido de castanho, de pé, junto do meu leito >. Perguntei como entrara, pois meu marido era um inimigo dos padres.
O monge sorriu, depois levantou o dedo num gesto ameaçador;
< Não farás semelhante loucura! A criança virá ao mundo, será um rapaz, e hás de pôr-lhe o nome de Giovanni >.
Desapareceu imediatamente deixando-me a esperança no coração, continuou a jovem mulher. Toda a minha família ficou furiosa, mas o médico disse que sem o meu consentimento, não podia fazer a operação. Confiava em que o Padre Pio havia de chamar sobre mim a graça. Quis ver de novo a fotografia. Era ele. Tudo se passou muito bem e vamos a San Giovanni Rotondo para mostrar ao Padre o nosso pequeno.

Livro: Padre Pio
O Estigmatizado
Maria Winowska
Página 14

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