A 15 de junho de 1923, Padre Pio recebe uma carta do Padre Provincial, em que está escrito: “Prepare-se para beber o cálice amargo, que eu também tive de beber”. Na crônica do convento do mesmo dia, o Padre Superior anota: “Enquanto em mim surge certa preocupação, nele observo a mesma maneira de viver de sempre. Limita-se a dizer: ‘Não nos façam esperar muito e digam-nos depressa o que devemos fazer’”.
A 7 de junho, o Padre Guardião de San Giovanni Rotondo recebe um pedido para fazer respeitar escrupulosamente as ordens já enviadas pelo Santo Ofício, a saber: “Padre Pio não deve continuar a celebrar Missa para o público, nem a horas fixas; celebre a Santa Missa na Capela interior do convento, não devendo permitir-se a ninguém que assista à ela; que o mesmo Padre Pio não volte a responder, pessoalmente ou através de outrem, às cartas que lhe forem endereçadas por gente devota, em busca de conselhos ou graças, ou por outros motivos”.
Entretanto, na região, espalha-se o boato de que Padre Pio vai ser mandado embora. O Padre Guardião considera oportuno não proceder à execução das ordens, para não exasperar os ânimos. Escreve na crônica do convento: “Fazer atos de restrição neste momento poderia ser motivo de sérios distúrbios, e por isso as ordens serão executadas dentro de alguns dias. Ao final do dia apareceram alguns fascistas que queriam saber até que ponto era verdade o que corria de boca em boca. Desmenti tudo porque, de fato, não há nada que corresponda à verdade acerca de partida de Padre Pio. Parece que a situação pode acalmar, mas temo algum golpe dos fascistas contra determinadas pessoas”.
No dia 22, o Padre Guardião dirigi-se a Foggia, a fim de se aconselhar com o Padre Provincial, manifestando-lhe o temor de uma insurreição popular. O Provincial replica que não pode fazer nada.
Na manhã do dia 25 de junho, Padre Pio celebra em privado, na Capela interior do convento. À tarde desencadeia-se uma insurreição popular, e três mil pessoas, tendo à cabeça as autoridades civis e militares e a banda, descem à praça, ameaçando cometer represálias violentas.
Para acalmar os ânimos, o Padre Guardião retira a ordem e garante que no dia seguinte Padre Pio voltaria a celebrar na Igreja.
As pessoas têm medo: obstruem os caminhos que conduzem ao convento, constroem barricadas e determinam que guardas armados vigiam, por turnos, o acesso ao convento.
É eleita uma comissão que se dirige a Roma, para negociar com as autoridades eclesiásticas. Chefiada pelo presidente da Câmara, o advogado Francesco Morcaldi, a comissão parte a 1° de julho. Em Roma é recebida pelo Cardeal Gasparri, secretário de Estado, pelo Cardeal Lega, do Santo Ofício, e pelo Cardeal Sbarretti, prefeito da Congregação do Concílio, mas não pelo Cardeal Merry Del Val, secretário do Santo Ofício.
A missão não obtém qualquer resultado concreto.
De regresso a San Giovanni, o presidente da Câmara descobre que a transferência de Padre Pio seria em breve. Contaria mais tarde: “Dirigi-me à Prefeitura de Foggia, onde obtive a confirmação. Corri então ao convento, com o coração em grande alvoroço. Encontrei Padre Pio na sacristia, apoiado a uma janela iluminada pela luz do pôr do sol. Estava pálido e percebi que sofria mais do que eu. Disse-lhe: ‘Vais deixar para sempre o teu povo, Padre Pio?’. Ele abriu os braços e abraçados, choramos juntos. ‘Recluso, atormentado e quem sabe onde: partirás de noite, com os soldados?’ Padre respondeu: ‘Se for essa a ordem, não poderei fazer outra coisa senão ajustar-me à vontade dos meus superiores. Sou filho da obediência’”.
Livro: Padre Pio
Um santo entre nós
Renzo Allegri
Página 291
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