Eu era militante do Partido Comunista desde meus tempos de liceu. Tinha estado na prisão. Tinha servido na Resistência. As minhas ideias políticas eram marxistas, por isso, dentro de mim havia certo conflito com a religião oficial. Contudo, nunca fui ateu. Pelo contrário, simpatizava com o Evangelho, em cujas páginas encontrava muitos ideais sobre os quais queria inspirar a minha vida. Já então sentia em mim um profundo sentido altruísta, um grande desejo de me tornar útil aos outros, sobretudo às pessoas mais humildes e mais simples. Por isso militava no Partido Comunista, que apoiava os operários, e pela mesma razão tinha escolhido a profissão de médico.
Uma noite, porém, fui testemunha de um acontecimento verdadeiramente inacreditável. Tinha-me licenciado havia pouco e era recém-casado. Estava cursando uma especialidade na clínica médica dirigida pelo professor Frugoni, mas, para ganhar mais alguma coisa, prestava assistência noturna a doentes. Tinha-me associado a uma farmácia, que me passava as chamadas. Era duro levantar-me no meio da noite e, por isso, habitualmente fazia-me acompanhar pela minha mulher, Luana, ou pelo nosso cão, cruzamento de lobo.
Uma noite, fui chamado pela farmácia, para acudir a um doente residente na Appia Nuova. O tempo estava muito ruim, e decidi ir sozinho. Nem sequer levei o cão comigo.
Eu tinha um automóvel velho. Depois de alguns quilômetros, percebi que, no assento ao lado do meu, estava um frade de barba. Olhei-o com atenção. Era idêntico ao das fotografias de Padre Pio, que Campanini tinha me mostrado. Fiquei atônito, mas não perdi a calma. Estava bem desperto e plenamente consciente. Esfreguei os olhos e voltei a olhar. O religioso continuava ali, tranquilo, como que absorto em oração. Esperei mais alguns segundos, que me pareceram eternos, e depois o olhei de novo. Estendi a mão, para tocá-lo, mas a mão entrou no corpo dele, como se fosse feito de luz. Não conseguia tocar naquele indivíduo, mas o via distintamente.
A dado momento, tive a impressão de que ele estava falando comigo. Não sei se ouvi as suas palavras, ou se a comunicação se deu de outro modo. O frade fez-me o diagnóstico do doente que eu ia ver, e depois desapareceu.
Cheguei ao destino em estado de grande tensão. Encontrei um velhinho magro, com uma hemorragia cerebral. Estava muito mal. A sua mulher estava desesperada. Pensei em fazer-lhe uma sangria. Naquela época, era a solução para tais emergências. Mas depois parecia que me lembrava de ter ouvido do frade, que vira no carro, precisamente, para não recorrer à sangria. Segui essa inspiração e foi a opção certa.
Administrei-lhe alguns medicamentos que trazia comigo e o velhinho se recuperou. Fiquei com ele algumas horas. Quando a manhã despontava, enquanto lavava as mãos, antes de partir, ouvi a senhora dizer ao marido: ‘Olha, este jovem médico é precisamente o mesmo que Padre Pio me descreveu em sonhos’. Ouvindo aquele nome, e pensando no que tinha acontecido durante a viagem, saí do banheiro e pedi explicações.
A senhora contou-me que, na noite anterior, tinha sonhado com Padre Pio. O frade tinha-lhe dito que o seu marido ia ficar muito mal, mas que não se devia assustar, porque ele lhe enviaria um jovem médico, seu amigo, que trataria muito bem do doente.
Saí daquela casa mais transtornado do que nunca. Nos dias seguintes continuei a pensar no que tinha visto no carro, e no sonho daquela senhora. Uma noite, disse à minha mulher que queria levá-lá para jantar fora.
Saímos de carro e fui imediatamente para a casa de Campanini.
Arranjei uma desculpa para obrigá-lo a sair e convenci-o a acompanhar-nos. Dirigi-me para a periferia e, quando já estávamos fora da cidade, disse que queria ver Padre Pio, pois tinha alguns problemas e precisava falar com ele.
Chegamos a San Giovanni Rotondo às quatro da manhã. Já havia gente à espera para a Missa. Campanini era conhecido. A minha mulher ficou no carro, e nois dois entramos no convento.
Campanini bateu à porta do frade, que estava se preparando para a Missa. Padre Pio saiu e, ao me ver, fixando em mim um olhar ardente, disse-me: ‘ Seu malandro, finalmente decidiu vir me conhecer’. Depois, mudando de tom, acrescentou: ‘Ouça, Mario, eu não acredito que você seja um bom médico. Só é bom porque eu vou com você e o guio’.
Ouvindo que ele me chamava pelo nome e vendo naquelas palavras uma referência caríssima ao fato que me ocorrera em Roma, com aquele velhinho, fui invadido por uma emoção profundíssima, caí de joelhos e desabei a chorar. Padre Pio pousou a mão sobre minha cabeça, e esse gesto ligou-me a ele para sempre.
A partir daquele momento, a minha vida mudou completamente. Tive uma espécie de crises interior. Estava profundamente convencido das minhas ideias políticas. Com a ajuda do Padre Pio, porém, tentei ligar o meu empenhamento social, inspirado na filosofia marxista, a uma forma de cristianismo puro, extraído do Evangelho. Julgo ter conseguido. Desde então toda minha vida foi passada na prática de um altruísmo vivo, dedicando-me com generosidade aos problemas das pessoas, escutando quem precisava de mim, eliminando-se da minha mente o ódio e a indiferença, empenhando-me também no campo político, ao serviço da comunidade. “Padre Pio passou ser o meu guia.”
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