Noutro extremo situa-se o caso de Michele, que mantinha em Torremaggiore um forno para cozimento de vasos de cerâmica. Era de temperamento exuberante, e naquela noite não poupou blasfêmias a todos os santos do céu e também a alguns da terra, como o Papa e o padre Pio, que diziam ser o “santo” do lugar. Era por volta das vinte e duas horas de 24 de junho, festa de São João. Tentava desesperadamente acender seu forno, mas não conseguia, por causa de um vento forte, mas tão forte que chegava a cortar a respiração. Começou então a soltar palavrões, quando notou por perto a figura trôpega de um frade.
— A paz esteja contigo! — lhe disse ele.
— Que paz, nem … Há horas que venho rogando pragas e este maldito fogo não quer acender … De que jeito vou cozinhar os meus vasos? Me explique.
— Que a paz esteja contigo! — repetiu calmamente o frade.
E foi sentar-se num caixote ali perto, pedindo-lhe um pouco de fogo, como se pretendesse acender um cachimbo. Miguel, porém, não via nenhum cachimbo. Uma onda de raiva monumental se apoderou dele e, num acesso de fúria, gritou:
— Pare de me fazer de bobo. Não vê que ando meio maluco por não conseguir acender o forno, e você vem me pedir fogo…
— Não se preocupe, eu mesmo vou acender seu forno.
Michele soltou uma gargalhada.
— Acaso acredita ser outro padre Pio, fazendo milagres para os bobos?
O frade bateu com força no peito, dizendo alto e bom som:
— Eu sou o padre Pio!
No mesmo instante, uma labareda como que explodiu dentro do forno. Sentindo faltarem-lhe as pernas, o pobre forneiro deixou-se ir ao chão, enquanto escutava estas palavras:
— Não tenha medo. Aprenda a confiar em Deus e pare de blasfemar.
Disse-lhe sorrindo, numa forma bem simples. E com seu passo trôpego, saiu em direção a San Giovanni Rotondo.
Poucos dias depois, Michele foi para lá, contando a todos que encontrava. E, claro tornou-se o maior fã do padre Pio. Quando alguém fazia referência a ele, gostava de repetir: É um homem cheio de coração.

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