“Em 1923 – conta a doutora Pirelli, de Verona, recém-formada em Medicina pela Universidade de Roma – me dirigi ao padre Pio para consulta-lo sobre o caso de uma amiga que atravessava uma séria crise matrimonial. Para não ser indiscreta, evitei entrar em minúcias. Desejava apenas uma orientação sobre como enfrentar o problema”.
Antes da viagem, tinha conseguido falar com o casal, advertindo-o para os profundos reflexos que uma separação acarretaria às crianças. E foi dura ao pedir-lhes que não pensassem apenas em si, mas também nos que os rodeavam. Lembrou-lhes sobretudo que eles tinham casado por amor, seria possível renová-lo. Aparentemente, porém, tudo foi em vão.
Quando a doutora ajoelhou diante do Padre, para pedir-lhe a benção, ele a afixou e fez um gesto, dando a entender que estava a par da situação.
_ Sei que a senhora – começou ele falando – pratica plenamente o amor ao próximo, não busca tanto a própria felicidade quanto a de seus amigos. Não tenho dúvidas de que estaria disposta a sacrificar sua própria vida, para devolver a paz a este casal. Nada veio pedir para si, ao contrário da maioria dos que se encontram ali na fila. Eles desejam saúde, sorte e bem-estar. Não sabe o desprazer que me causam os que pretendem transformar Deus num mágico, num malabarista, capaz de satisfazer seus caprichos. A senhora só se preocupa com o problema de sua amiga Angélica (em nenhum momento ela tinha pronunciado o nome da amiga). Vá tranquila. Fale com o marido dela, sem medo. Na verdade, não é tão feroz como o pintam, nem como gosta de aparecer. Depois volte aqui com eles.
A doutora Pirelli regressou confiante a Verona. Tinha certeza de que tudo daria certo. Padre Pio não falava por falar.
Com esta convicção dirigiu-se à casa da amiga. Encontrou-a sozinha. As crianças estavam no colégio, e o marido, no trabalho. Falou longamente, procurando prepara-la para sentar -se frente a frente com o marido. Angélica, porém, parecia atormentada. Pensava com preocupação em que fúrias poderia ele entrar ao saber daquela conversa. A doutora recomendou-lhe calma. Tudo sairia como Padre Pio tinha prognosticado. E realmente saiu.
Estavam ainda falando, quando o marido chegou. Para surpresa de ambas, o homem que tinha fama de mau gênio, saudou cortesmente a doutora e agradeceu a visita. Mas o espanto maior veio ao ouvi-lo dizer:
– Sei que a senhora esteve em San Giovanni Rotondo. Várias vezes ouvi falar no padre Pio. Nunca me despertou qualquer interesse. Esta noite, porém, tive um sonho. Vi a senhora ao lado dele, implorando pela salvação do meu casamento. Padre Pio não olhava para a senhora, olhava fixamente para mim, como a me dizer que eu devia repensar no que pretendia fazer. Pela maneira de olhar, entendi que estava me advertindo para o grave erro que cometia. Neste momento não tenho dúvida: padre Pio deseja que a senhora sirva de árbitro entre minha esposa e eu, para chegarmos a um acordo e estabelecer o afeto que sempre tivemos.
Quinze dias depois, a doutora voltava a San Giovanni Rotondo. Desta feita, porém, não ia sozinha. Os dois, reconciliados, tinham ocupado o assento a seu lado, no trem que os levava a Foggia.
Quando padre Pio os viu ajoelhados na igreja, com aquele seu sorriso, bem característico de quando uma secreta alegria o empolgava, falou:
Doutora Pirelli como pôde comprovar, o amor ao próximo comove o coração de Deus. Todos devemos rezar pelos pecadores e pelos que sofrem, como estes seus amigos. Deus nunca deixa de atender às orações que lhe dirigimos em favor de nossos irmãos. Não esqueça, quem torna felizes aos outros, termina ele mesmo sendo feliz.

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