Outro caso espetacular de bilocação, ao qual fizemos referências algumas páginas atrás, se deu com o generalíssimo Cadorna. Como se recorda, após a derrota de Caporetto (24.10.1917), ele caiu numa depressão tamanha que só pensava em tirar-se a vida.
Numa noite de novembro daquele fatídico 1917, alucinado pela dor, apanha o revólver na gaveta, gira o tambor para verificar se a carga está completa. Depois, com a ponta do cano apoiada à cabeça, o dedo no gatilho, está prestes a dar-se o golpe de misericórdia. De súbito, no lusco-fusco da sala, vê entrar um capuchinho de barba preta, que lhe grita:
Calma, general, não cometa uma loucura destas!
Como era possível? Não tinha ele ordenado às sentinelas que não deixassem entrar ninguém? Louco de cólera, precipita-se para fora, decidido a punir o responsável por aquela indisciplina. Mas todos juram que não viram passar ninguém. A cólera cede lugar a um sentimento de pasmo. A obsessão se abranda. Volta ao quarto … mas onde se meteu o frade? Não encontra ninguém.
Estarei ficando maluco? – se pergunta, e ansiosamente procura uma explicação para o enigma. Quem seria aquele frade capaz de cometer tamanha insolência, invadindo a privacidade de seu quarto e fazendo-lhe cair o revólver da mão? Era o tempo em que a fama do padre Pio começava a espalhar-se pela Itália. Ouviam-se casos desconcertantes a seu respeito.
Mas seria realmente ele? Para tirar a dúvida, três anos depois, Cadorna, já reintegrado em seu posto, decide viajar incógnito a San Giovanni Rotondo.
Era justamente o período em que o padre Pio se encontrava à disposição dos médicos. Impossível falar-lhe. O general, porém, insiste:
Deixe-me ao menos vê-lo!
Está bem – replica-lhe o padre guardião. Aguarde ali no corredor, enquanto nós vamos à igreja fazer a ação de graças depois da janta. Na volta poderá vê-lo passar.
Meio camuflado num canto, o general espera. Os frades passam de olhos baixos, um atrás do outro, em silêncio. De repente, padre Pio o reconhece, lhe sorri e levanta o dedo com um gesto entre burlesco e ameaçador. E como a lembrar-lhe aquela noite, lhe diz:
L’avete scapata Bella! Por um triz, não é?
O general estremece ao reconhecer o frade “insolente” que invadirá sua privacidade… e fizera cair o revólver de sua mão.
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